ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Modos de escrita da história na teledramaturgia de minissérie |
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Autor | Sara Alves Feitosa |
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Resumo Expandido | Introdução
O artigo tem como objetivo mapear as estratégias de construção do discurso histórico na teledramaturgia de minissérie. O percurso adotado é o seguinte: discussão sobre a emergência de narrativas históricas nas mídias audiovisuais e o efeito de atração que estas têm junto ao público; Identifica e descreve os modos de construção da escrita histórica na mídia audiovisual, pensando especialmente a produção de discursos que transitam entre real e ficção, entre história e melodrama. A história como produto de entretenimento feita primeiro pela literatura, depois no cinema narrativo e na televisão, embora seja amplamente consumida é frequentemente questionada e apontada como algo menor que a história compilada nos livros. Rosenstone (2010), falando do que se considera história na nossa cultura e de como ela é construída a partir de aulas expositivas e listas de datas, guerras e etc. Adverte,"consideramos isso história, mas não nos esqueçamos de que são apenas palavras em uma página, palavras que foram parar lá por causa de certas regras para encontrar evidências, produzir mais palavras de nossa própria autoria e aceitar a noção de que elas dizem algo sobre o que é importante no terreno extinto do passado" (ROSENSTONE, 2010, p.14). O autor argumenta ainda, que o mundo familiar e sólido da história escrita em páginas e a igualmente familiar, embora efêmera, história na tela é semelhante em pelo menos dois aspectos: 1) referem-se a acontecimentos, momentos e movimentos reais do passado; 2) ao mesmo tempo, compartilham do irreal e do ficcional, porque ambos são compostos por conjuntos de convenções que desenvolvemos para falar de onde nós, seres humanos, viemos, onde estamos e para onde achamos que estamos indo. No século XX, o cinema e depois a televisão tornaram-se o principal meio para transmissão de histórias que nossa cultura conta para si mesma. Passamos dos personagens míticos das sociedades tradicionais para dispositivos audiovisuais e eletrônicos que cumprem o papel que outrora era de sábios (LE GOFF, 1996; YATES, 2007). Compreender como o audiovisual constrói um discurso sobre a história da nação, como atribui verossimilhança, efeito de real (AUMONT, 2008) e efeito de verdade (CHARAUDEAU, 2007) para um produto cujo objetivo primeiro é o entretenimento são questões-chave para o presente artigo, a metodologia adotada foi a análise audiovisual (AUMONT & MARIE, 2011) e a análise dos três mundos que regem s gêneros televisivos (JOST, 2003; 2009). A partir de historiadores (ROSENSTONE, 2010; CHARTIER, 1998; PESAVENTO, 2004; BURKE, 2004) compreendo a história como uma narrativa que constrói uma representação sobre o passado, sendo a historiografia o espaço de organização desse discurso. É importante pontuar, que do mesmo modo como as narrativas históricas escritas, as obras audiovisuais não são espelhos que mostram a realidade extinta, mas construções, obras cujas regras de produção do discurso que lhe são próprias. No audiovisual é necessário não apenas representar uma realidade já extinta, é preciso acrescentar imagem em movimento, cor, som e carga dramática, sem a qual parece ser incapaz de atrair o grande público. Aí temos o primeiro e fundamental mecanismo de escrita da história na tela, ou seja, a construção de uma diegese entre o discurso historiográfico e a ficção; Outra estratégia deste tipo de narrativa é a individualização do processo histórico, ou seja, um indivíduo ou vários estão no centro dos acontecimentos históricos e é a partir de suas vivencias que tomamos conhecimento de guerras, revoluções, ditaduras e uma série de fatos que compõem a trajetória de uma nação. Estes dois mecanismos se complementam e associados ao uso de imagens-documento e de reconstituição proporcionam uma impressão de se estar diante da história. Para grande parte do público essas representações da ficção são as únicas as quais têm acesso sobre a história do país. |
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Bibliografia | AUMONT, J. & MARIE, M. A análise do filme. Lisboa: Edições texto e grafia, 2011.
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