ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Música de filme, esquemas e expectativas |
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Autor | Carlos Henrique Guadalupe Silveira |
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Resumo Expandido | Ao longo da vida, adquirimos, muitas vezes de maneira involuntaria ou inconsciente, conhecimentos sobre nosso ambiente e retemos mais particularmente suas regularidades. Esses conhecimentos permitem o desenvolvimento de expectativas sobre eventos futuros. Essas expectativas são úteis na percepção e antecipação de eventos, e preparam um organismo a reagir de maneira mais adequada e mais rápida às suas consequências (por exemplo, em nossa língua, a palavra “piratas” é reconhecida mais rapidamente que a palavra “girafa” se precedida pelas palavras “esse é um barco cheio de...”).
Certas regularidades podem ser observadas em música (como relações tonais, curvas melódicas, ritmos, convenções etc.) e também em relações entre música e filme (música em certos pontos formais do filme, como em créditos iniciais e finais, certos tipos de músicas associadas a certos tipos de momentos narrativos, música expressiva em cordas sobre cenas de amor, por exemplo, etc.). Espectadores são sensíveis a essas regularidades de utilização da música em filmes, da mesma maneira que são sensíveis a outras regularidades do nosso ambiente. Tendo aprendido essas formas regulares de utilização da música, assim como certos códigos musicais culturais, espectadores podem então se apoiar nesses seus conhecimentos para criar expectativas sobre a narração e a história do filme. Essa regularidade de utilização do material musical também pode ser criada dentro de um mesmo filme, como acontece, por exemplo, em trilhas sonoras que usam o leitmotiv como recurso narrativo. Além de um suporte narrativo importante, as expectativas baseadas no contexto audiovisual tem um papel fundamental na percepção do filme e na criação de emoções no espectador. Ao aumentar a previsibilidade de um evento em um filme, a música contribui para um tratamento mais rápido e adequado desse evento (um evento esperado sendo tratado cognitivamente mais rapidamente que um inesperado). Por exemplo, uma música expressiva, tocada nas cordas, etc., que “normalmente” acompanha uma cena de amor, ou que a antecede em alguns poucos segundos, não só amplifica a emoção ou o feito da cena*, mas a deixa também mais previsível (uma vez o espectador tendo aprendido que essas características musicais são constantemente associadas com cenas de amor). Ainda, se sua previsão é certa, o cérebro se recompensa com uma emoção positiva (e.g. prazer). Assim temos o prazer de prever, importante na recepção de um filme. Mas nem sempre previsões estão corretas, podendo ser violadas, interrompidas ou são mesmo erradas (criando surpresas). Os efeitos dessa interrupção de informação podem ser variados, indo de um desinteresse e repulsão a um aumento de interesse e maior intensidade afetiva. Essas expectativas baseadas em regularidades (principalmente no cinema hollywoodiano ou noutros fortemente influenciados por ele) são baseadas em estruturas mentais chamadas esquemas. Esquemas são estruturas pré-conscientes que organizam nosso conhecimento do mundo, “organizando” estímulos regulares do nosso ambiente. Eles são generalizações de evidências encontradas ao longo de nossas vidas, que nos ajudam a enfrentar informações que são novas no momento, mas que são ao mesmo tempo familiares (como a música “romântica” associada a cenas de amor no cinema). Esquemas são importantes para a percepção do mundo, na procura de significação, na intensidade afetiva de uma informação e mesmo na construção da consciência. Em nossa comunicação iremos explorar esquemas audiovisuais, principalmente aqueles baseados na música e no cinema hollywoodiano, suas consequências na contrução da narração, sua influência na percepção do filme assim como sua participação na construção de valores afetivos, interesse e prazer em filmes. *Como sugere grande parte da literatura sobre a música de filme como por exemplo Gorbman (1987), Buhler, Neumeyer, Deemer (2010), Chion (1995), Kalinak (1992), entre outros. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Silent Film Sound. New York: Columbia University Press, 2004.
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