ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Quadrinhos e multimídia: Sganzerla, Mojica e o caso do cinema marginal brasileiro |
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Autor | Régis Orlando Rasia |
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Resumo Expandido | Como é possível a “narrativa estática” dos HQ’s ser transportada para as narrativas em movimento do cinema? A inspiração está no horizonte estético dos filmes de José Mojica Marins, que em 1969 publica pela editora Prelúdio a revista O estranho mundo de Zé do Caixão, com histórias em quadrinhos roteirizadas por Rubens F. Lucheti e desenhadas por Nico Rosso.
Os quadrinhos são parte do universo de Ivan Cardoso, Ozualdo Candeias, Andrea Tonacci, entre muitos marginais. Em Sganzerla esta paixão por HQ está nas claras referências que o diretor tem por Mojica, se materializando em dois curtas-documentários no mesmo ano de publicação das histórias de Mojica. Histórias em Quadrinhos ou Comics é um curta dirigido e produzido por Rogério Sganzerla e Álvaro de Moya em 35 mm. Quadrinhos seriam os primeiros a serem indexados como documentários na cinematografia de Sganzerla, abordando o universo das tirinhas. A linguagem dos quadrinhos neste curta metragem, estaria isolada das narrativas ficcionais da época? Em partes, os quadrinhos são significativos pontos de verificações de inúmeros aspectos, seja da colagem e multiplicidade de materiais e mídias que viriam compor os filmes marginais, mostrando todo o hibridismo dos meios e as potentes influências estéticas do cinema, assim Sganzerla faria seu hibrido entre cinema e quadrinhos com uma linguagem documental. A popularidade dos gibis na década de 40 influenciava o universo imaginário dos diretores e também na construção de valores ao público juvenil da época. A relação dos gibis não para apenas na paixão dos diretores, mas transpõe-se para a linguagem utilizada nos filmes, como na composição de cenas e estruturas dramáticas das tramas cinematográficas na época. O estilo agressivo, a fotografia sombria, a sujeira no traço e o conteúdo das histórias são vitais para o entendimento desta linguagem no underground brasileiro. A desfragmentação narrativa muito peculiar aos quadrinhos, o cartoon, o traço e a representação de figuras das personalidades são presentes não apenas nas narrativas ficcionais, mas nos remetem até as narrativas documentais de Sganzerla que avançam as décadas de 1980 e 1990, é o caso dos filmes com Noel Rosa e os filmes sobre Welles, todas narrativas que desenham (literalmente) seus personagens, compondo os dizeres dramáticos com lapsos de pensamentos, elementos que são trazidos dos quadrinhos e incorporados às telas. Deste conceito de hibridismo nos filmes, salientam-se alguns fotogramas do livro O meio é a mensagem (1969) (versão italiana) de Marshall McLuhan que Sganzerla e Moya fazem questão de por na tela. Com uma narrativa guiada pelo texto de caráter histórico do especialista Álvaro de Moya, com voz off ora educativa ora anárquica, vemos um passeios da câmera e a montagem dos materiais pelos traços de artistas como Will Eisner, Milton Cannif, Alex Raymond e Al Capp. Influenciado por Mojica e tornando o cinema hibrido do rádio, da televisão, do jornal, Sganzerla soma mais uma mídia ao seu processo criativo: os quadrinhos. Citando diversos teóricos que foram responsáveis por verificar a força e o respaldo dos quadrinhos, este curta metragem híbrido, seria interessante para ser pensado e analisado na própria construção dos filmes posteriores de Rogério Sganzerla, antecipando a colagem de materiais com O bandido da luz vermelha e demais filmes que desencadeariam o cinema marginal brasileiro. |
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Bibliografia | MARINS, José Mojica. O estranho mundo de Zé do caixão. São Paulo, SP Ed: Prelúdio. No 1, Janeiro 1969. 55p.
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