ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | O sexo e a palavra: Pereio, um ator-autor |
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Autor | Pedro Maciel Guimaraes Junior |
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Resumo Expandido | A teoria do cinema nos ensinou a menozprezar o trabalho do ator ou a ver no trabalho de encarnação do intérprete de cinema apenas dimensões sociológicas e práticas, no qual as análises em torno do star system e dos cultural studies nos deram uma série de paradigmas de reflexão sobre o valor mercadológico dos astros e a representação das minorias.
Reivindico nessa comunicação elevar a sistemática da interpretação de um ator e da relação estabelecida entre ele e seus diretores ao estatuto de objeto estético, à altura da concepção de luz, de enquandramentos e de montagem. Nessa perspectiva, a teoria do ator-autor, idealizada por Patrick McGilligan, tem lugar de destaque. A autoria do ator dentro do processo de criação coletivo do filme foi colocado em voga a partir do cinema moderno, por volta dos anos 50, quando diretores, sobretudo europeus, passaram a contar com a individualidade dos atores não somente no momento de escrita de um papel mas principalmente nos momentos de filmagem. A autoria do ator de cinema leva em consideração não somente seus aspectos físicos, mas também aspectos abstratos que podem ser resumidos pelo conceito de persona, utilizado aqui no sentido de Carl Jung e que significa a parte emergente para a coletividade das características psicológicas de uma pessoa, seja ela pública ou não (JUNG, 1967, p. 480). O ator pode ser autor de diversas maneiras no cinema, seja participando do processo de escrita do roteiro, seja influenciando um filme de maneira subterrânea através da força oculta que traz sua persona. A dimensão escolhida para essa comunicação é aquela em que o ator influencia a mise en scène pelo simples fato de ter uma persona tão marcante que ele modela não só a criação psicológica de um personagem (através de traços de caráter, maneiras de ser e estar no mundo) mas também confere a seus personagens trejeitos físicos e de voz que são próprios ao ator. Estamos aqui longe das lições de Stanislavski, recuperadas no cinema por Lee Strasberg e seu Método, desenvolvido dentro do Actors Studio. Essa maneira de encarar o trabalho do ator teve seus méritos e construiu carreiras sólidas como as de Al Pacino, Robert de Niro, Dustin Hoffman ou Meryl Streep – para citar somente atores que passaram pelos bancos da escola de Lee Strasberg. Esse tipo de interpretação naturalista acaba sendo a via de regra do cinema, seja ele ocidental ou oriental, hollywoodiano ou independente. Apenas alguns autores ousam desmanchar essa impressão de falso naturalismo, as interpretações essencialmente psicológicas e as relações de servibilidade que envolvem diretor e ator para propor uma outra via de interpretação. Poderíamos citar exemplos de Robert Bresson, Jean Marie Straub, John Cassavetes, Manoel de Oliveira e, mais perto do nosso cinema, de Rogério Sganzerla e Julio Bressane. Paulo César Pereio é um ator oriundo desse segundo método de criação de personagens e de interrelação com diretores. Essa comunicação visa não somente sistematizar as orientações essenciais que fazem dele um verdadeiro autor nos filme em que aparece como ator, mas também analisar seu gestual e os tipos de personagem que interpreta como uma maneira de fugir do excesso de psicologia na criação dos personagens e como opção ao falso naturalismo que impera no cinema. Serão analisados trechos de filmes como Gamal, o delírio do sexo (João Batista de Andrade, 1970), filme fundador da persona sexual e escrachada que será constantemente revisitada por Pereio-personagem; em seguida Bang Bang (Andrea Tonnacci, 1971), essencial para a desconstrução do persongem tradicional ; Iracema, uma transa amazôncia (Jorge Bondansky e Orlando Senna, 1976), em que aparece a figura do binômio voz dissonante/voz condutora; até produtos audiovisuais que extrampolam o cinema de longa metragem e se alimentam da persona de Pereio criada por todos esses filmes como Eu te amo (Arnaldo Jabor, 1981), a minissérie de TV Anos Dourados (1986) e o curta Dossiê Rebordosa (César Cabral, 2008). |
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Bibliografia | BERGALA Alain. De l’impureté ontologique des créatures de cinéma, in Trafic 50, verão de 2004
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