ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Pau na máquina: novas tendências do pornô no final do século XX |
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Autor | Lucio De Franciscis dos Reis Piedade |
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Resumo Expandido | Propomos um panorama inicial da produção pornô brasileira a partir da década de 1990, ressaltando a influência dos novos direcionamentos do gênero com o estabelecimento da pornografia gonzo nos Estados Unidos. Estilo que foi conseqüência direta, ainda que não imediata, do desenvolvimento do home vídeo e da popularização das camcorders nos anos 1980, que mudou os rumos dos filmes x-rated. Lembramos que o videocassete acelerou o declínio dos cinemas que exibiam sexo explícito tanto nos Estados Unidos como no Brasil. A indústria norte-americana não demorou a se adaptar aos novos tempos, remodelando sua produção, que emulava os gêneros cinematográficos com alguma preocupação em termos de narrativa e estética, para baratas compilações de cenas hardcore. No Brasil a situação foi diferente, já que a incipiente indústria pornográfica sucessora da desgastada pornochanchada ainda tentava encontrar seu lugar aproveitando a recente liberação do sexo explícito. Almejava concorrer com os filmes estrangeiros, colocando no mercado títulos precariamente realizados, apelando para extremos do grotesco com anões, cachorros, cavalos e as situações mais inusitadas. O que não impediu sua derrocada, para o que contribuiu o novo suporte do videocassete e o deslocamento do público das “salas especiais” para as locadoras. Não custou para que os avanços tecnológicos dos novos equipamentos de gravação refletissem na estética dos novos realizadores – afinal, com as câmeras portáteis qualquer um poderia fazer seu próprio filme -, que ao contrário de buscarem inspiração ou reproduzirem os paradigmas do pornô que se fazia para a tela grande, ou se rendessem às simples e lucrativas compilações de relações sexuais, buscaram novos modos narrativos para um gênero que parecia não ter muito mais a dizer. Entra em cena John Stagliano (conhecido como Buttman), que com uma camcorder começou a gravar pornôs em primeira pessoa e foi o principal responsável pelo estabelecimento da principal tendência que nortearia a produção de sexo explícito nas décadas seguintes: o gonzo, filmes pornográficos de teor documental que caíram no gosto do púbico do final dos anos 1980 em diante, alavancando também derivações que estabeleceram o padrão atualmente dominante na pornografia fílmica, tentando promover uma reivindicação do “real” pelo gênero: os filmes amadores (geralmente caseiros, rodados com câmeras amadoras), o “pro-am” (filmes feitos por profissionais com atores amadores, ou uma mescla de atores profissionais e amadores) e o que podemos denominar “pornô-verdade” (reality porn). Esta última também tendendo ao documental ou jornalístico, e muitas vezes se confundindo com o gonzo, mas se diferenciando por não necessariamente ter o ponto-de-vista em primeira pessoa com o engajamento do diretor na ação. Graças a Buttman (e sua produtora Evil Angel) o gonzo fez escola no Brasil, onde encontrou campo fértil tanto no mainstream quanto nos vídeos caseiros que eram gravados e circulavam de forma alternativa e cresciam em escala proporcional à queda dos preços dos equipamentos e seu aprimoramento. A popularização do VHS (e mais tarde de outros formatos de melhor qualidade – o Betacam, o Super-VHS, o Mini DV, etc.) permitiu o desenvolvimento de um movimento a princípio estimulado pela possibilidade de qualquer um registrar a sua intimidade e compartilhá-la através do intercâmbio com outros exibicionistas. Tão grande é a procura por esses filmes que algumas empresas surgiram destinadas especialmente à comercialização e distribuição dessa produção amadora. Vale destacar a iniciativa de alguns desses realizadores de fundo-de-quintal que investiram em mais recursos e passaram a editar a sua gravação com mais esmero em ilhas de edição caseiras, encarregando-se também da comercialização (através de anúncios em revistas ou internet) e se profissionalizando. Como a X-Plastic, na ativa desde meados da década de 1990 produzindo e distribuindo o que denominam “pornô alternativo” ou alt porn. |
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Bibliografia | ABREU, Eduardo. Sexo, Fortuna e Videotape. In: Revista Buttman, edição 40. São Paulo: Angel Graphic Editora, fevereiro, 1998.
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