ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A contribuição da direção de fotografia para a imagem de María Félix |
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Autor | Marina Cavalcanti Tedesco |
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Resumo Expandido | A fotografia cinematográfica clássica possui três características básicas: 1) dramatização; 2) hierarquização; e 3) visibilidade (D’ALLONNES, 1991).
A dramatização consiste em trabalhar a luz de forma que ela seja “expressiva, retórica: dramatizada, psicologizada, metaforizada e eletiva. Que participe de um sentimento e de um sentido pleno e transparente (óbvio), ao contrário do mundo” (D’ALLONNES, 1991, p.7). Uma direção de fotografia dramática contribui para a onisciência de um filme, assim como “o personagem que entra numa cena imediatamente antes dele ou dela ser necessário, o movimento de câmera que acomoda o gesto de um personagem antes que ele ocorra, o corte inesperado para uma campainha imediatamente antes de um polegar tocá-la” (BORDWELL, 1999, p.30). A hierarquização diz respeito às prioridades que devem ser respeitadas no momento de iluminar o set. “O primeiro objeto de eleição, no que diz respeito à luz, aquilo de que se trata de imediato e no fim de contas de pôr em destaque, é o ator!” (D’ALLONNES, 1991, p.31). Todavia, é preciso lembrar que nem todos os atores são iguais, especialmente onde há star system. Assim, a fotografia de determinados atores e atrizes demanda muito mais tempo que a dos demais, posto que envolve lentes, refletores e acessórios específicos – Joe Walker, assim como muitos outros diretores de fotografia, relata que sempre utilizava um “inky-dinky” quando ia filmar Joan Crawford, mesmo quando ele não era necessário (WALKER; WALKER, 1993). Cabe ressaltar que hierarquização e dramatização muitas vezes se reforçam mutuamente. A estrela do filme, devido ao fato de ser a estrela do filme, recebe uma iluminação especial. E, através desta, é possível passar informações sobre o caráter ou o que vai acontecer a um personagem fundamental para a história (estrelas quase sempre interpretam personagens fundamentais para a história). Se por um lado existem afinidades entre as duas primeiras características da fotografia clássica, a terceira muitas vezes é uma fonte de tensão. Isso porque ela pode ser sinteticamente definida como o princípio da visibilidade, ou seja, a exigência de que mesmo os mais irrelevantes detalhes e as partes do cenário mais distante da câmera possam ser vistos com clareza pelo espectador. E toda esta iluminação em cena inviabiliza a dramatização e a hierarquização, já que ambas só podem ser criadas através do contraste entre mais luz e menos luz, entre claros e escuros. Além das tensões colocadas pela exigência de visibilidade, questões de gênero e textos estelares também complexificam o trabalho do diretor de fotografia, e o caso da star mexicana María Félix é emblemático nesse sentido. Incidia sobre ela e sobre aqueles responsáveis por sua imagem (diretores de arte, figurinistas, maquiadores, cabeleireiros e diretores de fotografia) o imperativo da beleza, exigido da imensa maioria das estrelas mulheres - havia, evidentemente, exceções: grandes comediantes, estrelas que atingiam tal posto já com a idade avançada para os padrões hollywoodianos, como Marie Dressier... Ao mesmo tempo, seu texto estelar de mulher forte, capaz de romper com o destino de gênero das personagens que interpretava e dominar os homens (embora de uma maneira muito diferente das mulheres do cinema noir, que se valiam de uma sensualidade extrema e se apresentavam como indefesas), impedia que recebesse o mesmo tratamento que uma mocinha ou uma femme fatale, por exemplo. Este trabalho tem por objetivo investigar como a direção de fotografia tentou atender a tantos (e conflitantes) interesses nos seguintes filmes de María Félix: Doña Bárbara (Fernando de Fuentes, México, 1943), Enamorada (Emilio Fernández, México, 1946) e Río Escondido (Emilio Fernández, México, 1947). A razão para a escolha dos mesmos se justifica por eles trazerem, respectivamente: o momento em que seu texto estelar começa a ser moldado, a vitória do amor sobre o texto estelar da atriz e o rompimento com este texto. |
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Bibliografia | ALTON, John. Painting with light. University of California Press: California: 1997.
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