ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Delicado horror: cinema de gênero e o incontrolável terror do feminino |
|
Autor | Erick Felinto de Oliveira |
|
Resumo Expandido | Dentre todos os gêneros altamente tipificados, o cinema de horror é aquele que desperta as reações mais exaltadas e as polêmicas mais acaloradas. Criticado por sua exploração da violência e pelo vazio de sua estruturação narrativa, o filme de horror foi classificado tradicionalmente como diversão inconsequente para adolescentes descerebrados. Fora, portanto, do âmbito de certos nichos altamente especializados, o horror constituiu um ‘impensado’ da teoria cinematográfica. Revisitado exaustivamente pelas leituras de matriz psicanalítica ou culturalista, o gênero funcionou eminentemente como uma espécie de repositório do imaginário social naquilo que este teria de mais sombrio: as perversões do corpo e do espírito. Partindo de diferente perspectiva, o objetivo desta comunicação é explorar a dimensão “material” e afetiva do cinema de horror. Que tipos de paixões e afetos despertaria a experiência espectatorial típica desse “gênero do corpo” (Williams, 2004; Hawkins, 2000)? Que espécie de poética visual poderia ser pensada a partir de determinadas configurações do filme de horror? Que horizonte não-hermenêutico – e, portanto, da ordem do corpo, dos afetos e das sensações – poderia ser iluminado com base no horror cinematográfico? A partir da conflitiva (mas também, acreditamos, produtiva) conjugação da proposta de Gumbrecht (2011) de uma ‘leitura de ambiências’ (Stimmungen) com determinadas formulações mais tradicionais dos estudos feministas, objetivamos investigar o cinema de horror a partir de um olhar renovado, capaz de contemplar dimensões políticas ao mesmo tempo que estéticas. De forma mais específica, tomaremos como foco de nosso interesse três filmes nos quais a figura feminina aparece como fonte de horror e de afecções incontroláveis do corpo: Valerie e sua Semana de Maravilhas (Jaromil Jirés, 1970), Teeth (Mitchell Lichtenstein, 2007) e Dans ma Peau (Marina de Van, 2002). Enquanto o primeiro explora, a partir de uma poesia imagética de inspiração surrealista, o despertar sexual de uma adolescente, o segundo se constitui numa fábula do empoderamento feminino pela posse da própria sexualidade e o terceiro alegoriza as pressões do mundo empresarial sobre a identidade feminina (na forma de um perturbador ritual autofágico). Todavia, para além dos componentes especificamente narrativos, os três filmes produzem uma ‘ambiência’ decididamente singular, na qual a delicadeza caminha de mãos dadas com a abjeção. É precisamente essa paradoxal combinação entre uma poética da delicadeza e a mais horrenda monstruosidade que pretendemos explorar em nossa análise. Seu objetivo final será o de propor uma visão do cinema de horror como expressão de um excesso que não se esgota em nenhuma dimensão particular da experiência cinematográfica. Um excesso no qual se desvela, conforme a recente formulação de Raymond Bellour, aquele “corps du cinéma” que funciona como sítio virtual da conjunção entre o corpo dos filmes e o corpo do espectador (2009). |
|
Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Le Corps du Cinéma: Hypnoses, Émotions, Animalités. Paris: P.O.L, 2009.
|