ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A verdade da mentira em Cópia fiel, de Abbas Kiarostami |
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Autor | Genilda Azeredo |
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Resumo Expandido | A questão da ambiguidade no filme Cópia fielCópia fiel tem origem no próprio título: a que se refere a expressão “cópia fiel”? A resposta mais óbvia diz respeito inicialmente ao livro (intitulado Cópia fiel) do autor James Miller (William Shimell), assunto com que a narrativa fílmica inicia. A questão é desdobrada no discurso que ele profere, com todas as referências à originalidade e autenticidade no contexto artístico, e, em contraponto, à noção de cópia, reprodução, falsidade, mentira. Em determinado momento, a defesa da cópia é respaldada por possibilitar um retorno à origem, de modo a corroborar seu valor. James ressalta que a palavra originalidade e origem partilham a mesma etimologia – daí a articulação entre originalidade e nascimento; daí a relação sempre explorada na relação cópia-original: uma relação que busca as fundações, as fontes, as origens. Um objeto original, ele explica, significa um objeto autêntico, genuíno, confiável, duradouro e que possui um valor intrínseco (Walter Benjamin chama tal valor de aura). Em outro argumento usado pelo escritor no filme, se a cópia é fiel, bem feita, se o olhar de quem olha não vê diferença entre a cópia e o original, então não há razão para se atribuir valor superior a um em detrimento do outro. O olhar atribui verdade ao que vê.
A questão volta à tona, tempos depois, agora através de uma pintura – a Gioconda – que também tem o título de Cópia fiel. Durante cinquenta anos, acreditou-se que o quadro fosse original, mas mesmo depois que a farsa foi descoberta, o quadro continuou atraindo o público, exatamente por sua perfeição, fidelidade e qualidade estética quanto à reprodução. Aliás, é por conta da relação entre o quadro e o livro, que Elle (Juliette Binoche) leva o autor James Miller até o museu; segundo ela, o quadro poderia ter sido uma ilustração apropriada para a capa do livro dele. Além destes exemplos iniciais, há outros significados que a expressão “cópia fiel” vai incorporando e conotando ao longo da narrativa. Com efeito, o filme desloca, de modo inovador, toda a discussão inicialmente inserida em contexto artístico – originalidade, reprodução – para também falar sobre o que é genuíno e verdadeiro no contexto das relações humanas. E isso é feito de modo tão diferente, com recursos tão indiretos, reveladores e tocantes que o filme continua a reverberar em nós após a expectação. Através dessas observações, queremos propor uma discussão do filme Cópia fiel, levando em conta a articulação entre autenticidade, originalidade, cópia e valor artístico, bem como o rendimento estético que as estratégias de ambiguidade, laconismo e paralelismo possuem na narrativa. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. The work of art in the age of mechanical reproduction. In: Mast, Gerald et al (eds). Film theory and criticism. Oxford: Oxford University Press, 1992.
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