ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Aspectos performáticos no ator de cinema brasileiro dos anos 1970 |
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Autor | Maria Guiomar Pessoa de Almeida Ramos |
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Resumo Expandido | Nos filmes Prata Palomares,(1970) e Orgia ou o homem que deu cria,(1970), podemos observar formas de atuação que podem ser chamadas de performáticas? São figuras alegóricas como o guerrilheiro, o padre, o cangaceiro, o camponês, o povo: contextualizam a busca por uma identidade de nação, presente em outros filmes do final dos 60s, mas aqui dentro de um universo de deboche e horror.Prata Palomares, retoma tema da guerrilha, presente em outros filmes brasileiros, como Terra em transe (Glauber Rocha, 1967), Blá¡, blá¡, blá¡ (Andrea Tonacci, 1968). A trama gira em torno de dois guerrilheiros que se escondem numa igreja da fictícia Porto Seguro, aguardando uma oportunidade para escapar em direção à área ocupada pelos seus companheiros.Já Orgia apresenta um Brasil mais fragmentado como narrativa, mas presente através de paródias de tipos já desenvolvidos pelo Cinema Novo:um camponês,(aqui ele mata o próprio pai), um cangaceiro grávido, um ceguinho do sertão, um travesti vestido de Carmen Miranda, etc. Em um trajeto carnavalesco que vai do campo para a cidade, terminam todos em um cemitério onde o cangaceiro grávido dá à luz em meio às tumbas. A ideia é destacar, em meio a análise fílmica, a leitura do discurso corporal. Para entender os novos códigos presentes focando a experiência corporal, pesquisar como se deu a influência de teóricos como Antonin Artaud, Bertold Brecht, Grotowski em meio ao processo de criação teatral da época. Tendo no horizonte o conceito de performance como arte em torno das relações entre cinema e teatro, foram realizadas entrevistas com diretores e atores dessas produções,de maneira a rever as discussões levantadas na época, quando as experiências do palco adentram o universo cinematográfico. A produção de Prata Palomares está diretamente ligada ao teatro Oficina, e tem a participação de seus principais atores, Ítala Nandi e Renato Borghi, mais o diretor Zé Celso como roteirista (junto com André Faria).Já em Orgia, além de Pedro Paulo Rangel, do teatro, trabalham diversos não-atores ou atores iniciantes. Mas o filme conta também com a participação em cena, de cineastas e críticos do meio cinematográfico da Boca do Lixo de São Paulo,(centro do grupo de Cinema Marginal) como os diretores Ozualdo Candeias, (de A Margem), Sebastião Milaré,e os críticos Jairo Ferreira e Jean-Claude Bernardet (também professor de cinema da Universidade de São Paulo). Do teatro temos as propostas de teóricos como Antonin Artaud, Jerzy Grotowski sendo colocadas em prática e também trazidas para o Cinema. Renato Borghi (um dos fundadores do Oficina desde 1961), afirma que Grotowski reunia todo o desespero presente no filme Prata Palomares: é o documento mais claro do momento dilacerante que o grupo estava vivendo naqueles anos de ditadura,de 1969 e 1970,auge da repressão. Para Borghi havia na leitura dos textos de Grotowski a adaptaçãoo para o processo de criação do Oficina. "...era um Grotowski da nossa cabeça ... queríamos que a voz não saísse só da boca e sim das vísceras, descobrimos esse caminho da verdade física, do descontrole...". Em relação a Artaud, havia trabalhos que inspiravam essa prática,o que mais se destacava era o do grupo de teatro do Living Theatre, do Julian Beck,que havia abolido o texto,com a peça Paradise Now. Em Orgia, Trevisan fala de um processo de criação bastante aberto, onde o roteiro deveria servir como uma orientação para o diretor coordenar as improvisações. Menciona um método inventado por ele e por José Fernandes (o ator que fazia o ceguinho e o ajudava a dirigir) que era o de criar um bicho para cada ator. "Queria deixar os atores ‘mais soltos’ e poder ‘documentar’ o trabalho deles, eram os animais que aprendiam a se relacionar entre si, ou a se estranharem". Durante ensaios preparatórios, Trevisan acompanhava, pequenas ações e a marcação cênica que iria ser totalmente modificada pelos atores. O processo de improvisação dava-se também durante a dublagem do filme na mesa de montagem. |
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Bibliografia | GOLDBERG, Roselee. A arte da performance. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
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