ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Ciudad Juárez, Tijuana e a narcocartografia no cinema |
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Autor | Maurício de Bragança |
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Resumo Expandido | Esta proposta de comunicação pretende pensar numa cartografia construída a partir de uma produção de cinema fronteiriço mexicano-chicano conhecido como narcocine. Nesse repertório, a presença de cidades-fetiche em torno do mundo do crime e da violência, como Tijuana e Ciudad Juárez, articula um narcoimaginário que está presente, historicamente, na própria cultura de massa e na indústria do entretenimento de uma forma geral. Neste sentido, o lugar que tais cidades ocupam no repertório narrativo sobre a violência e contravenção na fronteira norte do país, está intimamente articulado ao próprio desenvolvimento das políticas narcóticas e na maneira como o mundo das leis e da saúde pública foi diagnosticado pelas mídias (tanto na imprensa de forma geral quanto nas narrativas cinematográficas, na literatura, na música popular veiculada pela indústria fonográfica, dentre outras manifestações).
Pretendemos discutir as imagens e discursos que se produzem em torno do universo das drogas ilícitas, seus usuários e negociadores, a circulação dessa produção e os vários agentes sociais que se inserem nesse cenário, numa perspectiva alternativa aos encaminhamentos jurídicos que caracterizaram as discussões do narcomundo numa dimensão moderna. Nesse sentido, percebemos o imaginário de uma cultura que vai de encontro a uma secular tendência proibicionista e repressiva com relação à produção, comercialização e utilização das drogas narcóticas. As mídias se apresentam como um campo de disputa na qual os vários agentes sociais envolvidos nesse processo negociam suas imagens a partir de políticas de representação que se erguem para além da dicotomia legalidade / ilegalidade, dando contornos a uma fronteira que coloca em xeque um Estado-polícia forjado por paradigmas modernos. Essa fronteira se constrói historicamente como um lugar à margem das leis e das práticas modernas de controle social, na construção de uma cartografia onde Tijuana e Ciudad Juárez ganham lugar de destaque. Podemos pensar na permanência, em vários produtos midiáticos, de um imaginário em torno destas cidades. Essa narcopaisagem geralmente assume as fronteiras interamericanas, sobretudo a emblemática zona limítrofe entre o México e os Estados Unidos, como o cenário para o desenvolvimento de narrativas nas quais discussões sobre subdesenvolvimento, violência, pobreza e migrações estão presentes. A permanência residual de uma narcocultura, que escapa à lógica moderna agenciada pelos estados policiados e medicalizados, remete-nos a dois conceitos importantes que nos ajudam a identificar as ressonâncias desse imaginário como uma espécie de “escombros da modernidade”: a ideia de “estrutura de sentimento”, de Raymond Williams e as discussões em torno de uma “modernidade periférica” a que Beatriz Sarlo (2010) faz menção ao analisar o processo de modernização da cidade de Buenos Aires nos anos 1920 e 1930. Ciudad Juárez e Tijuana ganham relevo narrativo nessa produção e no imaginário popular a partir da organização de um inventário de elementos e histórias ligadas ao mundo do crime, no qual o papel das drogas e a atuação dos cartéis de narcotráfico funcionam como eixo condutor destas narrativas. Independentemente dos efeitos nocivos que possam causar à sociedade como um todo, o que pretendemos discutir aqui é que para além dessa dimensão jurídica, a inscrição da produção, circulação, comércio e consumo de drogas também está intimamente ligada à permanência de um narcoimaginário que ganha relevo se observado sob o aspecto de uma produção cultural nas quais uma outra paisagem se legitima. |
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Bibliografia | ASTORGA, Luis. Tráfico de drogas ilícitas y medios de comunicación. Conferencia Internacional Medios de Comunicación: guerra terrorismo y violencia. Universidad Iberoamericana, México, mayo de 2003. Disponível em http://catedras.ucol.mx/transformac/iberoponencia.pdf. Acesso em 2/11/2010.
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