ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | O ensaio fílmico como obra aberta |
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Autor | Gabriela Machado Ramos de Almeida |
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Resumo Expandido | Este trabalho tem como ponto de partida uma preocupação levantada em outras ocasiões e que ganha aqui uma continuidade, a saber, a investigação de referenciais teóricos que podem servir como horizonte conceitual para uma abordagem do ensaio fílmico. Neste sentido, serão exploradas aproximações entre o filme-ensaio e conceito de “obra aberta”, formulado por Umberto Eco originalmente em 1958, e que desde então tem servido como instrumental teórico-analítico para a reflexão a respeito de determinadas poéticas caracterizadas pela abertura.
Para tal fim, servirá como corpus analítico a série História(s) do Cinema, conjunto de oito ensaios audiovisuais produzidos entre 1988 e 1998 por Jean Luc-Godard, sob demanda da emissora de televisão francesa Canal+. O que constitui um pressuposto inicial deste trabalho é a sugestão de que a série de Godard e o modelo de Eco se aproximam quando é percebida a vocação à abertura de História(s) do Cinema exatamente como seu objetivo mais explícito: por meio da montagem, Godard mistura, associa, confronta e sugere, ficando a cargo do fruidor atualizar as inferências e os subtextos. História(s) do Cinema, cumprindo uma premissa comum a diversos filmes de teor ensaístico, apresenta uma demanda de fruição espectatorial bastante específica, em função exatamente da sua abertura. Para Eco, a relação fruitiva baseada nesta abertura sugere uma nova dialética entre obra e intérprete e é o ponto fundamental do seu modelo, muito mais do que um possível conjunto de regras formais das quais seriam dotadas as obras abertas e que permitiria que elas fossem assim classificadas. Godard, por sua vez, é “descortês” com o fruidor ao oferecer inúmeras questões e nenhuma resposta, num emaranhado de imagens às quais não se permite nem ao menos acessar em sua apresentação original, já que foram necessariamente submetidas a um gesto apropriativo de autoria bastante marcada, que retira as imagens dos seus contextos originais e lhes impõe um processo de ressignificação por meio da montagem. Uma vez que pouco há de registro imagético e sonoro produzido por Godard especificamente para a série - cuja matéria-prima são as imagens de arquivo -, o que subjaz é o registro deste gesto apropriativo, de um método que consiste em articular num conjunto dotado de unidade uma massa audiovisual caótica que se apresenta ao mesmo tempo desconexa mas bastante sólida, uma “forma que pensa” decorrente do potencial das imagens de falarem umas das outras ao serem confrontadas (é da ordem do confronto, mais do que da associação, o tipo de relação em que as imagens são postas). Ainda que diversos autores apontem História(s) do Cinema como a obra máxima de Godard e como ensaio fílmico exemplar e que a discussão seja conduzida aqui por um estudo específico da série, é objetivo também deste trabalho, num âmbito mais geral, olhar o ensaísmo como um traço importante – e cada vez mais presente – da cultura audiovisual contemporânea. Este tipo de produção, que tem sido alvo de crescente interesse no campo dos estudos em audiovisual, manifesta-se principalmente sob o domínio de três matrizes audiovisuais principais: o documentário (destacando-se sobretudo os filmes autobiográficos, autorreflexivos e poéticos baseados em imagens de arquivo), o cinema experimental e, em menor grau, a videoarte (mais especificamente a media art, responsável por aproximar certos experiências fílmicas das artes visuais). |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor. O Ensaio como Forma. São Paulo: Editora 34, 2008.
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