ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Documentário de divulgação científica em tempos de cibercultura |
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Autor | Heloisa Helena Oliveira de Magalhães Couto |
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Resumo Expandido | O Documentário – um olhar sobre a Vila Velha foi produzido por um coletivo de alunos e professores de uma escola municipal, da região metropolitana do Recife e postado no YouTube. Gerado a partir da câmera de um celular, teve o propósito de construir um argumento audiovisual para discutir problemas relacionados à preservação do meio-ambiente e à qualidade de vida da comunidade de Vila Velha, primeira feitoria instalada oficialmente no Brasil em 1526. O vídeo analisado apresenta traços do cinema documentário, que se atém a determinadas convenções (DA-RIN, 2004) para imprimir uma ideia de veracidade: planos-sequência; imagens tremidas captadas pela câmera na mão flagrando o acontecimento; som direto; ausência de narração over. O próprio conteúdo do diálogo estabelecido entre a moradora-entrevistada e os alunos-entrevistadores reforçou essa impressão.
A abordagem histórica de León (2001) nos ajuda a construir uma das trajetórias da divulgação científica. Durante séculos os conhecimentos científicos foram patrimônio apenas de uma elite intelectual. Conforme progrediu a influência estratégica da ciência e da tecnologia nas estruturas políticas, econômicas e culturais surgem razões político-sociais para a disseminação desses conhecimentos e a Ciência passa a ser compartilhada com novos segmentos. Não há como identificar um documentário de divulgação científica apenas pelo seu formato ou conteúdo. É preciso observar se há compromisso e uso dos realizadores e da audiência em divulgar conhecimento científico. Em geral busca-se criar pontes entre conhecimento científico e o saber cotidiano. Objetiva-se fazer chegar a um determinado grupo, de maneira interessante e que se pretende rigorosa, vis-à-vis ao próprio entendimento do público, situações e contribuições que levem à reflexão; estimulem conexões com outros conteúdos; ou desencadeiem motivação para querer aprender mais. De maneira geral os documentários de divulgação científica podem ser correlacionados ao modo expositivo, segundo a classificação de Nichols (2005). Com base nas teses do paradigma emergente propostas por Santos (2001) e nas especificidades da produção audiovisual documentária contemporânea, discutidas por Lipovetsky e Serroy (2009), identificamos no documentário algumas características que vêm sendo utilizadas nos filmes contemporâneos, para divulgação científica, tais como: considerar o próprio processo de filmagem como produtor de conhecimento; tomar o próprio processo de coleta das imagens como um acontecimento, em que o acaso e o improviso são valorizados; espaço para a elaboração de autorrepresentações pelos próprios sujeitos que participaram da experiência, e para evidenciar a construção da filmagem (evidenciando que o filme cria o seu próprio tipo de verdade); esforço para problematizar as condições do ambiente em que viviam; as falas do entrevistado não foram usadas como ilustração de um argumento, elaborado antes da entrevista; ausência de narração over. A produção audiovisual serviu como instrumento de pesquisa e documentação e foi apresentada e debatida em escolas da região. Segundo Silva e Vieira (2010) o vídeo transformou-se em recurso de estudo nas escolas do município e foi selecionado para Mostra de vídeos brasileiros da TV Cultura. Os professores produziram trabalhos para eventos científicos sobre a importância do celular como ferramenta educacional, para produção audiovisual e em sua utilização no ensino a distância; e sobre o gênero documentário como instrumento de pesquisa e ensino. Destacaram que não se tratava de ensinar a usar um dispositivo técnico, ou a linguagem cinematográfica; nem apenas de construir um registro documental de um sítio histórico e ecológico; mas todos esses momentos e práticas foram oportunidades de discutir com integrantes de uma comunidade como se apropriar de seu cotidiano. Alunos realizadores, aprendizes e coautores na elaboração do vídeo, participando de debates junto à comunidade, o que aprenderam em sala de aula. |
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Bibliografia | DA-RIN, S. Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2004.
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