ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Auto-reflexividade na sitcom contemporânea |
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Autor | Marcel Vieira Barreto Silva |
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Resumo Expandido | Na televisão contemporânea, um dos sintagmas que mais se transforma é a chamada ficção seriada. Tendo uma trajetória de sucesso que remete aos primeiros teleplays, nos anos 1940 e 1950, passando pela consolidação de formas e gêneros específicos, como a telenovela, a comédia de situação e o drama de uma hora, hoje a ficção seriada se depara com um extenso processo de mudanças, tanto no escopo de temas abordados, quanto - e, principalmente - pelo desenvolvimento de novas formas narrativas e novos modelos de encenação.
Boa parte do debate em torno da ficção seriada contemporânea passa pela televisão norte-americana, que, na última década, vivenciou uma expansão dos formatos, temas e modos de produção dos programas, refletindo em trabalhos teóricos que pensam em categorias para o entendimento do processo. Conceitos como o de “complexidade narrativa” (MITTELL, 2006), “televisão cult” (GWENLLIAN-JONES; PEARSON, 2004) e “televisão de qualidade” (MCCABE; AKASS, 2007), aparecem como centrais para pensar essas formas contemporâneas de ficcionalização televisiva, ainda que remetam a debates que, desde os anos 1980, apontam para a qualidade de programação na televisão comercial (FEUER et alli, 1984; THOMPSON, 1997; MACHADO, 2000). Historicamente vinculada a um estilo de encenação clássico, com as cenas em estúdio, no modelo multi-câmera que emula uma apresentação teatral ao vivo (inclusive, com a adição da trilha de risos ao fundo), a sitcom vivenciou na última década inúmeras tentativas de criação de formas alternativas de encenação. De um lado, tivemos a popularização de um modelo que busca imitar o estilo do documentário observacional (The Office, Modern Family, Parks and Recreation), contando com entrevistas dos personagens e a interposição da câmera documental no espaço físico do cena, rompendo, assim, com a quarta parede do modelo multi-câmera. De outro lado, séries como Arrested Development, 30 Rock, It’s Always Sunny in Philadelphia e Community utilizam procedimentos auto-reflexivos mais comuns ao cinema e à dramaturgia modernas para a criação de uma mise-en-scène nova, que busca o efeito cômico a partir de inúmeras quebras da ilusão cênica (como quando, em Arrested Development, os personagens discutem com o narrador onisciente), da interpelação da câmera pelos personagens (por exemplo, quando Jack Donaghy, inadvertidamente, olha para a câmera em 30 Rock) ou de uma pedagogia intertextual como narrativa (como em Community, nos vários episódios que incorporam gêneros, programas televisivos e filmes dentro de sua mise-en-scène). Dessa maneira, este paper busca investigar o modo como se constroem novas formas de encenação da ficção seriada televisiva, destacando a necessidade de os estudos sobre séries debaterem, a partir dos exemplos e das análises, a questão da mise-en-scène na televisão. Tida como elemento central, desde os anos 1950, para pensar o papel criativo e autoral dos diretores no cinema, a categoria da mise-en-scène deve sim ser recuperada para pensar as novas formas de ficção seriada, que a cada dia, em diferentes registros, aponta para a superação de um paradigma depreciativo sobre esse gênero televisivo (a sitcom), historicamente considerado como pobre em termos de estilo, ainda que interessasse a investigações no campo da sociologia, da comunicação, dos estudos culturais e de recepção, etc. Portanto, ao inserir o debate sobre a sitcom contemporânea no campo de uma estilística da mise-en-scène televisiva, pretendemos dar um passo além desse paradigma depreciativo, apontando para a qualidade das estratégias e dos procedimentos estilísticos utilizados nos programas. |
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Bibliografia | ALLRATH, Gaby; GYMNICH, Marion. Narrative Strategies in Television Series. London, UK: Palgrave MacMillan, 2005.
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