ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | O espectador de cinema e a imagem verdadeira |
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Autor | Marina Soler Jorge |
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Resumo Expandido | Os temas a serem desenvolvidos nesta apresentação são parte dos resultados de uma pesquisa sobre o fenômeno da cinefilia contemporânea a partir de uma pesquisa empírica realizada junto a frequentadores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2010. Entre os muitos temas que podem ser explorados no âmbito da cinefilia, o que eu gostaria de trazer para o debate nesta apresentação é a questão da ontologia conforme concebida pelo crítico André Bazin, que em diversos artigos explora o incremento brutal do aspecto de realidade que a fotografia e o cinema trazem para a História da Arte.
Na citada pesquisa sobre cinefilia, construí uma escala de atitudes para medir a concordância dos entrevistados com algumas sentenças relacionadas ao amor ao cinema. As sentenças eram apresentadas aos espectadores e eles deveriam dizer, numa escala de 1 a 5, sendo 1 “discordo totalmente” e 5 “concordo totalmente”, seu grau de concordância. A sentença que nos interessa para nossa discussão aqui dizia: “Vou ao cinema para aprender; gosto que o filme me faça pensar e refletir sobre o mundo”. Ela sugeria, em primeiro lugar, a existência de um mundo como uma realidade a ser apreendida intelectualmente e, em segundo lugar, a importância do cinema como forma de apreensão desta realidade. Entre os 252 entrevistados, 83,3% concordaram com a sentença (atribuindo-lhe valores 4 ou 5), um número que eu considerei bastante alto e que me fizeram refletir sobre as consequência destas respostas para nossa compreensão do cinema. Tratava-se de entrevistados pertencentes a um grupo específico, os frequentadores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e por isso provavelmente mais conscientes e interessados na linguagem do cinema e nas formas de construção do mundo histórico enquanto imagem. Porque estes espectadores, ainda que iniciados nas convenções e construções do cinema como criador de discursos culturalmente e convencionalmente informados, experimentavam a sala de cinema como uma espécie de sala de aula, na qual aprendem sobre a realidade de modo a tornarem-se mais capacitados a refletir sobre ela? A capacidade de identificar e compreender linguagens, teorias, estéticas, referências e pontos de vista nos filmes não seria suficiente para que o espectador assistisse-os de modo suficientemente armado contra os discursos fílmicos sobre o mundo histórico, de modo a rejeitar um suposto acesso ao real? Como entender que, embora intelectuais e pesquisadores insistam sobre a “mentira” do discurso fílmico, muitos espectadores o tenham como verdade? Teríamos de admitir uma ilusão coletiva, ou a ignorância generalizada dos espectadores, e passaríamos a eternidade acusando, sem muito sucesso, o cinema, pois ainda encontraríamos, disseminado em meios diversos, o vocabulário do real: o cinema como aquele meio que “mostra”, “revela”, “desvenda”, “esclarece”, “explica”, etc. Nesta apresentação, pretendo discutir brevemente os mecanismos desta crença no real desencadeado pelo cinema utilizando-me de uma bibliografia recente e que não dialoga especificamente com o cinema, mas que pode nos ajudar a avançar na questão do realismo cinematográfico, tão caro a Andre Bazin e ao contexto dos anos 50 e 60, e que parece ter retornado à cena na atualidade depois de ser alvo das experiências de desconstrução fílmica dos anos 70. Trata-se do livro de Hans Belting A Imagem Verdadeira (2007) que, ao discutir as relações entre a crença na imagem e o Cristianismo, nos ajuda a ultrapassar alguns argumentos que focam na ingenuidade do espectador de cinema, “enganado” pela ilusão cinematográfica ao acreditar em seu teor de realidade. Belting nos chama a atenção para o fato de que a crença na imagem está entranhada em nossa cultura de uma maneira mais poderosa do que talvez supúnhamos, de modo que não se trata apenas de desvelar os mecanismos da crença para que ela não mais obscureça nossa compreensão, mas entende-la como fenômeno cultural fundamental em nossa relação com a imagem. |
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Bibliografia | ANDREW, Dudley. André Bazin. Paris: Etoille, 1983.
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