ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Hibridização de gêneros em Amanda e Monick de André da Costa Pinto |
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Autor | VIRGÍNIA DE OLIVEIRA SILVA |
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Resumo Expandido | Muito se tem dito sobre o processo de hibridização (ALTMAN, 2004; BUSCOMBE, 2004; MOINE, 2002) que ocorre entre os gêneros cinematográficos. Interessa-nos aqui refletir sobre tal ocorrência em dois importantes gêneros, a saber: no documentário, ao utilizar as técnicas da ficção, e na ficção, ao usar os mecanismos documentais (JACQUINOT, 2004; PENAFRIA, 2009). Não pretendemos esgotar a riqueza de tal debate nem defender a pureza entre os gêneros, mas destacamos que a reflexão dessa problemática é muito estimulada por alguns filmes que deixam entrever os efeitos dessa hibridização, seja dentre os cinéfilos ou mesmo por espectadores não afetos de todo à linguagem cinematográfica (MARTIN, 2003). Mas há exemplares audiovisuais em que as distinções não são tão evidentes. De tal forma, que não sabemos de imediato - ou nem mesmo depois - se proclamados documentários são ou não produzidos por encenação ficcional, jogando com a recepção do público que se pergunta: esta cena compõe um documentário ou uma ficção? Esta cena é fictícia e, portanto, possui um roteiro de falas e marcações produzido anteriormente a ela, ou é registro direto daquilo percebido como o real e, neste caso, a pessoa filmada está dizendo o seu próprio texto na medida em que o produz? Quer nos parecer que existam ainda produtos cinematográficos em que a hibridização pretenda escamotear, não somente a si mesma, como um recurso bem acabado de metalinguagem, mas, ao contrário, a própria realidade que afirma registrar alguns denominados documentários que mais parecem ficção. Ainda, a hibridização, por vezes, parece fornecer tamanha força de veracidade e verossimilhança à obra ficcional da qual é constituinte, que leva o espectador a crer mesmo que esteja diante de um documentário e não de uma, tecnicamente falando, ficção pensada e interpretada. Assim, a partir das inquietações supracitadas, pretendemos analisar os fios da narrativa do curta-metragem Amanda e Monick, gravado em Barra de São Miguel, no interior do Estado da Paraíba, dirigido pelo jovem cineasta paraibano André da Costa Pinto, que, além de nos apresentar um pouco do cotidiano de dois jovens travestis nordestinos, nas nesgas dos enlaces e das costuras do processo de sua edição (MARTIN, 2003), nos permite entrever o seu conteúdo e a sua forma fortemente inscritos sob o signo do duplo. Utilizamos o conceito de hibridização dos gêneros cinematográficos (ALTMAN, 2004; BUSCOMBE, 2004; MOINE, 2002) para melhor compreendermos a estética (BETTON, 1987) intencionalmente traçada pelo diretor e por sua equipe de profissionais, durante o processo de produção do referido audiovisual. Destacamos também que seu contexto ancora-se na extrema mudança que vem se exercendo no seio da instituição familiar (ZAMBRANO, 2006), diante de outros estatutos comportamentais e de novos paradigmas que ultrapassam a arcaica e tradicional bipolarização atribuída aos gêneros: masculino e feminino. E concluímos que, para além da hibridização do gênero fílmico em que se registra a narrativa fílmica aqui analisada ou da hibridização dos gêneros de seus próprios personagens, as questões culturais e sócio-econômicas são extremamente importantes e, muitas vezes, determinantes para se obter respeito e dignidade, até mesmo para quem queira se assumir como travesti numa cidade do interior da Paraíba. |
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Bibliografia | ALTMAN, R. Film/Genre. Londres: British Film Institute, 2004.
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