ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Cinema paraguaio hoje: memórias, arquivos & fantasmas |
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Autor | Adalberto Muller Junior |
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Resumo Expandido | Marcado por duas das Guerras mais cruéis e devastadoras do continente americano (a Guerra da Tríplice Aliança e a Guerra do Chaco), e por uma das mais longas e tenebrosas ditaduras caudilhistas, o Paraguai teve seu processo de industrialização fraturado, e chegou ao século XX sem condições de acompanhar os desdobramentos do capitalismo industrial de seus vizinhos. Não é de estranhar que o cinema paraguaio tenha tateado ao longo do século XX, até quase desaparecer. No entanto, depois de mais de 40 anos de silêncio, o cinema paraguaio começa a "falar" no final ao longo dos anos 2000, através do esforço de jovens realizadores como Paz Encina e Mauricio Rial Banti. Ambos exploram memórias e arquivos da Guerra, a fim de desenterrar os ossos da História, libertando fantasmas e vozes aprisionadas no tempo. O registro documental dentro da ficção e o registro ficcional dentro do documentário se mesclam nos filmes de Encina e Rial Banti, sobretudo quando se considera o papel da memória.
Assim, câmera estática e distanciada em Hamaca Paraguaya (2006) quase anula o papel da interpretação, jogando toda a atenção para elementos naturais (árvores, nuvens, trovões, latidos) e para a narrativa oral/vocal. Aliás, o resgate do idioma guarani nesse filme e em Viento Sur pode servir de exemplo para se pensar a memória inscrita no arquivo da linguagem. As falas dos personagens, ainda que ficcionais, funcionam como testemunhos da história, recriando o que se pode chamar de uma situação-arquivo, na qual retornam os fantasmas da guerra. Já em Tren Paraguay (2011), Rial Banti realiza uma viagem imaginária nas ruínas de uma antiga linha de trem, e descobre, através dos arquivos vivos, o testemunho de mais uma fratura histórica (como em Benjamin, toda História é dor). Em seu mais recente filme, Viento Sur, Paz Encina revisita o tema da guerra, mesclando novamente uma narrativa oral a registros documentais - num processo ainda mais radical que Hamaca Paraguaya. E novamente aquilo que seria um jogo ficcional se converte em testemunho, o que borra ainda mais os territórios definidos de ficção e documentário. Em Overava (2012), em processo de finalização, Rial Banti recupera o mito dos tesouros enterrados durante a Guerra da Tríplice Aliança, e com isso mais uma vez realiza um processo de escavação do passado. A partir de reflexões sobre memória e arquivo, queremos pensar nessa comunicação alguns dos processos de representação e problematização da memória e da subjetividade, a partir de uma discussão sobre as fronteiras entre os registros documental e ficcional no novo cinema paraguaio, em especial na obra dos realizadores Paz Encina e Mauricio Rial Banti. |
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Bibliografia | ALCALA, Javier R. La imagen tiempo en Paraguay: un boceto incompleto (1900-2010). Disponível em: http://lorenzozucolillo.wordpress.com/2011/12/07/la-imagen-tiempo-en-paraguay-un-boceto-incompleto-1900-2010/. Acesso em maio de 2012.
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