ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Os sertões nordestinos autóctones do cinema brasileiro contemporâneo |
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Autor | diogo cavalcanti velasco |
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Resumo Expandido | O cinema brasileiro produziu os seus sertões nordestinos ao longo de sua história: um sertão ora cangaço, ora beato. Ás vezes, invadido por foras da lei, outras, salvo por eles. Mas, sempre seco, miserável, assolado, de sol ardente. Sempre houve/há falta de água, de terras e a luta por elas: vendeta.
Duas famílias se matam pela honra, tradição. Se um mata de cá, o outro mata de lá. Porém, ambos vão fazer uma reza antes. O sertão é de Deus, de Padre Cícero, de São Sebastião, de São Jesus da Lapa, da fé, é da cruz que se carrega para pagar uma promessa. É da cruz que cruza a região (re) inventada do Nordeste. Logo, sertões de símbolos. Após tantos discursos da imagem, formou-se uma "massa" simbólica com O cangaceiro (Lima Barreto), Deus e o diabo na terra do sol, Vidas secas (Glauber Rocha), Os fuzis (Ruy Guerra), O pagador de promessas (Anselmo Duarte), Central do Brasil (Walter Salles), entre tantos outros filmes ao longo da cinematografia nacional. Ademais, essa "massa" simbólica foi produzida por um número de ingredientes que foram se encaixando em formas de espacialização dos sertões, em seus westerns, ou “nordesterns”, em seus usos como alegoria, espaço para engajamento político, e, mais contemporaneamente, até como um melodrama saudosista. Esses sertões cinemáticos voltaram a ser (re) inventados nos anos 2000 por um grupo de realizadores (Marcelo Gomes, Lírio Ferreira, Karim Ainouz e Paulo Caldas), que possuem uma relação de proximidade com o Sertão Nordestino, e que os questionam, dando formas a novas autoctonias do sertão. Para apresentar essas novas formas de espacialização, inspirada na análise dos filmes Cinema, aspirinas e urubus (Marcelo Gomes, 2005), Árido movie (Lírio Ferreira, 2006), Céu de Suely (Karim Ainouz, 2006) e Deserto feliz (Paulo Caldas, 2007), podemos dividir os sertões (re) inventados em cinco, compondo as seguintes categorias: 1. Sertão trânsito - O formato de Road Movie garante um novo movimento errante, um zigue-zague que arremessa o personagem à experiência pedagógica com o sertão nordestino para, posteriormente, expulsá-lo e deixá-lo em estado latente de modificação. É assim com os personagens Jonas, Johan e Hermila; 2. Sertão "muderno" - Os sertões fílmicos são apresentados como uma mistura entre arcaísmo e modernidade, num processo modernizante quase antropofágico, pois não é completamente global, modificando a sua localidade e tradições; 3. Sertão líquido - O líquido não só em sentido úmido, de trazer água para o sertão, mas de adequação, conceito de Bauman, ao contexto dos realizadores, em suas vontades políticas de espacialização. Logo, existe um questionamento sobre as práticas de discurso da imagem sobre o sertão nordestino repisadas historicamente. São introduzidos, assim, novos elementos e novos símbolos; 4. Sertão sujeito - Enquanto, historicamente, buscou-se uma reprodução de uma condição sertaneja, um modo de vida, algo que fosse generalizado, hoje buscam-se sertanejos, por meio de trajetórias menos coletivas, que os singularizam. Na verdade, o que ocorre é uma busca incessante pela identidade, que se esvai, que escorre, e que se desfaz ao final; 5. Sertão estético - Os sertões que carregam seus novos empregos simbólicos, o fazem também acompanhados por novas formas, em seus engajamentos estéticos, ou seja, nos seus gêneros Road Movies, nos finais abertos, na música "mangue beat", etc... |
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Bibliografia | ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. A invenção do nordeste. São Paulo: Cortez, 1999.
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