ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Ideias em circulação: cinema, ciência e identidade nacional |
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Autor | Ana Paula Spini |
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Resumo Expandido | A discussão apresentada nesta comunicação está inscrita em um projeto de pesquisa que tem como objetivo investigar a circulação dos projetos de nação existentes nas primeiras décadas do século XX no Brasil, em diferentes espaços de domínio dos intelectuais do período. Para tanto, optou-se por analisar as ideias de brasilidade presentes no cinema silencioso brasileiro, e mais especificamente no cinema de Humberto Mauro, da década de 1920, o chamado Ciclo Regional (1923-1930), para investigar em que medida aspectos da identidade nacional e regional encenados por Mauro articulam-se com a produção de historiadores do IHGB.
Os estudos de Eduardo Morettin sobre a cinematografia de Humberto Mauro elucidam aspectos fundamentais do processo de construção de um cinema nacional que, já na década de 1920, tinha como referência o cinema de Hollywood. No entanto,como os estudos já apontam, ainda que o cosmopolitismo seja identificado nos filmes, o mesmo vale para a nostalgia de um mundo rural que se perdeu. O conflito entre o cosmopolitismo e o regionalismo marca, assim, a filmografia de Humberto Mauro. Os estudos sobre Humberto Mauro reconstroem, a partir disto, as suas redes de relações no âmbito cinematográfico e profissional para compreender a guinada cosmopolita nos filmes a partir de 1930: sua relação com Adhemar Gonzaga e a influência de Cinearte, Roquette Pinto e Afonso de Taunay. A proposta desta comunicação é compreender este conflito no âmbito das representações pretendidas de Brasil, nas discussões trazidas a público sobre a identidade nacional nas primeiras décadas da República. Presume-se que as narrativas de nação presentes nos filmes de Humberto Mauro da década de 1920, entendidas como visão de mundo do cineasta em sua fase interiorana, estavam inscritas em um processo de circulação de ideias no período, ideias estas relativas aos embates entre projetos de nação então em voga. A visão de dois brasis – o do litoral e o do interior – prevalecia à época, bem como duas visões sobre o sertão: uma que o situava como lugar do atraso, em oposição à cidade, e outra que o via como o espaço por excelência da brasilidade, sendo a cidade o lugar dos estrangeirismos (GONTIJO, 2007, p.319). Para além desta dualidade, litoral e interior, outra se apresenta: a ideia universalista de modernidade em confronto com a valorização das tradições nacionais, também identificadas ao regionalismo, expressas no movimento modernista. Para Eduardo Moraes, o nacionalismo surge no modernismo como “manifestação no campo da cultura do esforço de incorporação dos países novos na ordem moderna” (MORAES, 1988, p.234-235). Procura-se, assim, a intertextualidade possível entre manifestações intelectuais do período sobre a questão da identidade nacional, com especial atenção à circulação das ideias de brasilidade presentes no discurso historiográfico da época. A investigação focará a possível relação entre o discurso científico sobre o Brasil e o Brasil que aparece no cinema de Humberto Mauro. O discurso científico será buscado em duas fontes distintas, voltadas para públicos distintos: a Revista do IHGB e o Almanaque Brasileiro Garnier, cuja característica é a “[...] composição de conteúdos oriundos de diferentes tradições literárias e sociais; da circulação desse gênero no meio de públicos bem distintos, bem como das modalidades diferenciadas de sua apropriação, a pluralidade dos usos e das compreensões [...]" (DUTRA, 2005, p.62). |
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Bibliografia | DUTRA, Eliana Regina de Freitas. Rebeldes Literários da República: história e identidade nacional no Almanaque Brasileiro Garnier (1903-1914). Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, 2005.
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