ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Cinema, fotografia e pintura: o uso de imagens com movimentos mínimos |
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Autor | NINA VELASCO E CRUZ |
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Resumo Expandido | Este artigo pretende fazer uma reflexão sobre o efeito estético provocado pelas imagens que compõem o prólogo do filme Melancolia (2011) de Lars von Trier. Essa sequência inicial, que dura em torno de 8 minutos, chama a atenção do espectador por ser compostos por planos estáticos, apresentando pequenos movimentos em câmera lentíssima, e por um forte impacto visual proporcionado por uma composição e por um simbolismo que fazem referência à iconografia pictórica ocidental. Acredita-se que essas imagens buscam produzir um efeito estético específico por explorarem uma temporalidade que remete a regiões limítrofes entre o cinema, a fotografia e a pintura.
Lars von Trier, cineasta de origem dinamarquesa, se consagrou como um dos principais membros do movimento experimental Dogma 95, apesar de ter produzido apenas um filme seguindo estritamente os preceitos de seu manifesto (Os Idiotas, 1998). Todos os filmes dirigidos por ele possuem uma forte marca autoral, em que a experimentação com gêneros (melodrama, musical) e com outras linguagens (teatro, televisão, literatura) é uma constante. Melancolia (2011), se tornou a produção mais polêmica de sua carreira por conta de elementos extra-fílmicos - a infeliz declaração na coletiva dada no Festival de Cannes em que se autoproclamava nazista. Talvez por conta desse episódio, que rendeu ao diretor o banimento do festival, pouco foi escrito de forma séria sobre o filme em si, seja no âmbito da academia, seja no âmbito da crítica. No entanto, o filme reafirma o caráter experimental do diretor e nos permite refletir sobre os efeitos estéticos temporais que o cinema é capaz de produzir no espectador através de referências às experiências pictóricas e fotográficas. Os primeiros escritos sobre Cinema e Fotografia tiveram como principal desafio estabelecer estas técnicas como arte legítima e linguagem autônoma. Isso fez com que grande parte do discurso sobre essas novas formas de arte fosse marcada por um essencialismo em que as diferenças se sobrepunham às semelhanças ou filiações em relação às artes precedentes, como o Teatro e a Pintura. O impacto do digital arruína o principal balaustre dos discursos ontológicos, a saber, a especificidade técnica. Teóricos como Jacques Aumont (2004), Damian Sutton (2009), Lev Manovich, entre outros, tem desenvolvido pesquisas em que Fotografia, Cinema, Pintura, Teatro e Vídeo são aproximados, rompendo com as fronteiras rígidas que as definiam. No campo das artes visuais essas distinções são questionadas há pelo menos 50 anos, com movimentos como o Fluxus, que cunhou o conceito de "intermedia" (FRIEDMAN, 1999), com o surgimento da videoarte e do Cinema Expandido (YOUNGBLOUD, 1970) e finalmente com a expansão da chamada "artemídia". No entanto, o cinema ficou praticamente imune a essas experiências por depender historicamente da indústria do entretenimento que havia imposto como dispositivo hegemônico um formato relativamente fixo (filme narrativo com duração média de 90 a 120 minutos, exibido em tela retangular em uma sala escura com poltronas frontais). Isso não quer dizer que não tenha havido espaço para uma produção dissidente ao modelo clássico hollywoodiano, principalmente após a aparição do neorrealismo italiano, que levou o nome de cinema de arte (Bordwell, 2002) e que se atualiza a partir dos anos 90 na categoria de cinema independente ou indie, em que a experimentação é permitida e valorizada. A obra de Lars von Trier se insere nesse território que floresce no início dos anos 90 e que é herdeiro das experimentações estéticas do cinema de arte pós-guerra. Desde seu primeiro longa-metragem, Europa (1991), Trier inaugura uma cinematografia com forte marca autoral. Dançando no Escuro (2000) e Dogville (2003) tornam-se referência desse campo experimental. Melancolia nos ajudará a refletir sobre a questão da temporalidade no Cinema contemporâneo através do uso de imagens que remetem ao universo da Fotografia e da Pintura. |
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Bibliografia | AUMONT, J. O olho interminável: cinema e pintura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
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