ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | As cidades, o cinema |
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Autor | Daniela Duarte Dumaresq |
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Resumo Expandido | A vida nas cidades transformou a experiência cotidiana dos homens entre fins do século XIX e início do século XX. O fenômeno urbano foi objeto de reflexão de diferentes pensadores e artistas desse período. Para essa comunicação, proponho uma análise das chamadas “Sinfonias das cidades” à luz das reflexões manejadas pelos pensadores Georg Simmel, Walter Benjamin e Charles Baudelaire.
Os três autores abordam características do homem que surge com a modernidade. Simmel preocupa-se com a vida mental do homem que vive nas cidades grandes, onde se dá uma intensificação dos estímulos nervosos. Esse homem precisa encontrar meios de preservar sua autonomia e individualidade. As regras da civilidade, a lógica do dinheiro, a vida organizada pelo relógio e pelo calendário constituem a condição de organização da vida social. No entanto, o excessos vividos na grande sociedade produzem um novo tipo de homem, o homem marcado pela atitude 'blasé'. A impessoalidade das formas de organização passa a corresponder a uma subjetividade extremamente pessoal. A atitude 'blasé' constitui-se ao mesmo tempo o resultado de uma vida imersa em excessos de estímulo e uma forma de proteção contra esses mesmos excessos (Simmel, 1902, p.13-16) . Baudelaire descreve o homem do mundo, um cosmopolita, capaz de compreender o mundo e as razões de seus costumes. A marca desse homem é a curiosidade, seu lugar a multidão (1869, p. 14). Benjamim observa o caráter destrutivo do homem moderno. Esse homem está pronto a criar espaço, a apagar os rastros. Onde os outros vêem obstáculos, ele vê novas possibilidades, onde os outros vêem ruínas, ele vê novos caminhos. Espírito jovial, ele se renova a cada destruição em direção a um novo (1987, p. 235). Esse homem moderno, cosmopolita, de atitude blasé, de caráter destrutivo, vivencia uma nova forma de relação com o mundo. O homem moderno passa a interagir com o mundo de maneira diversa, sua sensibilidade não é mais atingida da mesma forma que a do homem pré-moderno. A cultura moderna é a cultura de vidro, no qual nada se fixa e sob o qual nada se esconde. Advém dessa forma de estar no mundo a pobreza da experiência apontada por Benjamin (1985 [1933], p. 114). A modernidade marcada pelo efêmero e pelo fragmentário cria uma forma de experiência pelo instante. A forma de “experiência sublime da continuidade” cede espaço aos “instantes únicos de imersão sensorial”, fala Charney citando Walter Pater (2001, p. 388). O cinema, nascido moderno, constitui-se um lugar privilegiado para a análise que as formas modernas assumem nas artes. O fragmento montado, o instante capturado pela câmera, o inconsciente óptico (Benjamin, 1985, p.94), a fotogenia (Epstein in Xavier, 1983 ) estão no centro de um estética moderna. No entanto esse mesmo cinema, em muitos casos herdeiro do drama burguês e do melodrama, nem sempre problematizou suas características no seio mesmo do filme. O objetivo desta comunicação é analisar as “Sinfonias das cidades”, percebendo como uma reflexão sobre a modernidade pode assumir formas fílmicas. Para tanto, os filmes que se propuseram na década de 1920 a lançar um olhar sobre as cidades tornam-se lugar privilegiado, uma vez que tendem a combinar a forma narrativa e as questões aqui apontadas no seio mesmo do filme. |
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Bibliografia | BAUDELAIRE, Charles. Sobre a modernidade. 6. ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1997, [1869].
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