ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Serras da desordem: um lugar de memória |
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Autor | Fabiana Ferreira Lopes |
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Resumo Expandido | Analisar Serras da desordem não é tarefa fácil, porque se deve ter o cuidado de considerar tudo o que já foi dito sobre esse filme. São inúmeras interpretações, de diferentes pontos de vista e por distintas perspectivas. Além disso, o cuidado deve ser dobrado, inclusive, porque a complexidade do filme de Andrea Tonacci contribui para que haja sempre mais o que dizer, explicitando um novo ponto de vista, a ser confrontado com um anterior. O livro sobre o filme, organizado por Daniel Caetano (2008), é um exemplo desse caleidoscópio de ideias. Apresentando seis contrapontos sobre Serras da desordem, o livro tenta dar conta de toda a problematização do filme. São cinco diferentes interpretações e uma entrevista com o realizador. O primeiro texto do livro foi escrito por Ismail Xavier e trata de contextualizar o Serras na história do cinema; o segundo texto, escrito por Luís Alberto, aborda o sentido político e sociológico das imagens; o terceiro texto, de Clarice Cohn, reflete, com base nos estudos da antropologia, sobre a autorrepresentação de Carapiru e a questão indígena; na sequência, Rodrigo Oliveira analisa o cinema como espaço de encontro entre Tonacci e suas personagens; por fim, Daniel Caetano estabelece os vínculos entre Tonacci, o Cinema marginal e Rogério Sganzerla. Apesar de esses textos desenvolverem diferentes pontos de vista sobre o Serras, há, de maneira impressionante, elementos que se repetem em todas as abordagens. Esses elementos são símbolos que denotam força na narrativa. Independente do foco do observador, que pode ser histórico, estético, político ou antropológico, esses símbolos se evidenciam. E é por meio desses símbolos, que se tornam nexos entre diferentes perspectivas, que este trabalho pretende refletir sobre o Serras da desordem. Em todas essas análises de Serras são citadas, por exemplo: a imagem do trem, do avião, da placa da FUNAI, do possível sonho de Carapiru e do passageiro do trem e das imagens de arquivo. Por que essas imagens ganham força na narrativa de Tonacci? O que essas imagens imprimem (carregam)? Por que cinco pessoas que se dedicaram a escrever sobre o filme, a partir de pontos de vistas diferentes, rememoraram exatamente as mesmas imagens? Essas imagens não estão atreladas exatamente a um acontecimento passado, mas às noções comuns que construímos sobre determinados temas e acontecimentos. É como se essas imagens fizessem parte de um certo conhecimento (saber) do mundo compartilhado por determinadas pessoas. No caso, uma certa noção que temos sobre o índio, a floresta e o Brasil. Em Serras, os símbolos contém incessantes significados, cabendo à montagem a função de ordená-los e dirigir ou produzir noções. Por isso, Serras da desordem torna-se um lugar de memória (NORA, 1993: 21). Porque se por um lado é difícil encontrar relações entre esses símbolos e a realidade cotidiana (ordinária), por outro, eles são carregados de significados, o que possibilita a ampliação de sentido de cada um deles. Assim, este trabalho busca mostrar como a narrativa de Serras da desordem pode ser um lugar físico e simbólico para a memória coletiva de um grupo específico de indivíduos. |
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Bibliografia | CAETANO, Daniel (org.). Serras da desordem. Rio de Janeiro: Azougue, 2008.
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