ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Relações entre negócios e crime organizado em Force of evil |
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Autor | Elder Koei Itikawa Tanaka |
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Resumo Expandido | Baseado no romance Tucker's people, de Ira Wolfert, Force of evil (1948) é o primeiro trabalho de Abraham Polonsky como diretor. O filme tem como protagonista o ator John Garfield no papel de Joe Morse, um advogado ambicioso que trabalha para Ben Tucker (Roy Roberts) em Wall Street. Tucker é um gângster ex-traficante de bebida durante a Lei Seca, que quer dominar o mercado de jogos de azar de Nova Iorque. Tal monopólio, no entanto, afeta diretamente os negócios de Leo (Thomas Gomez), irmão de Joe, que sofre de problemas cardíacos e opera uma pequena banca de apostas na cidade. Dessa maneira, Joe procura alternativas para atingir as metas estabelecidas por seu chefe e, ao mesmo tempo, tenta salvar seu irmão da bancarrota.
Tanto Polonsky como Garfield faziam parte de um grupo denominado plebeians, uma geração de artistas e intelectuais de famílias de imigrantes da classe trabalhadora norte-americana. Tal geração via no desenvolvimento do aparato da indústria cultual uma oportunidade de ganhar a vida como escritores ou artistas, deixando para trás o mundo do trabalho braçal dos pais ao ingressar em um universo próximo ao do trabalho intelectual - aparentemente de classe média, mas com pouca garantia de emprego (DENNING, 1996, p. 60-61). Os plebeians, por sua vez, eram parte da "Frente Cultural" (Cultural Front), um movimento cultural e político que se desenvolveu a partir do legado da Depressão vivida pelo país nos anos 1930. O crítico cultural norte-americano Michael Denning ressalta que o surgimento da "Frente Cultural" está ligado a três fatores principais. Pelo fato de serem filhos de imigrantes da classe trabalhadora, muitos dos trabalhadores da indústria cultural traziam para esse meio os valores passados por seus pais. Além disso, boa parte dos integrantes da Frente Cultural iniciou seu aprendizado na década de 1930, num período em que a consciência de classe era valorizada. Por último, no caso de Hollywood, muitos dos trabalhadores adquiriram uma determinada consciência de classe nesse período, visto que diretores, atores e roteiristas sofriam represálias por parte dos estúdios ao tentarem se organizar em sindicatos. O próprio filme Force of evil só pode ser produzido porque foi realizado pela Enterprise Studios, uma produtora independente que oferecia aos atores e diretores parte dos lucros e atraiu membros proeminentes da esquerda norte-americana como Polonsky e Garfield (MUNBY, 1999, p. 124). Segundo Paul Buhle e Dave Wagner, "a atmosfera de luta política está em todos os aspectos de Force of evil, do script à produção, e até mesmo no contexto histórico [...] o enredo alveja diretamente o pescoço do monopólio, não apenas na loteria ilegal em Nova Iorque, mas, por implicação, dos grandes estúdios. No ano anterior, a Suprema Corte havia declarado os estúdios culpados por violarem a lei antitruste [Sherman Antitrust Act] e obrigou-os a abrir mão de cadeias de estúdios - o que viabilizou economicamente a realização de filmes de arte em estúdios independentes" (BUHLE e WAGNER, 2001, p. 118). Tendo em vista as condições de produção de Force of evil, nosso objetivo com esse trabalho é observar dois aspectos do filme. O primeiro é a maneira como nele se configura a perspectiva da esquerda sobre as relações entre os negócios legais e o crime organizado. O segundo aspecto é a visão do diretor quanto à questão da divisão intra-classes - parte importante da pauta da crítica da esquerda à produção da Frente Cultural, segundo Denning. |
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Bibliografia | BUHLE, P., WAGNER, D. The politics and mythology of film art: Polonsky's noir era. In: A very dangerous citizen: Abraham Polonsky and the Hollywood left. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 2001.
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