ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Watchmen: uma estrutura composicional |
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Autor | Luiz Marcelo Brandão Carneiro |
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Resumo Expandido | O objetivo deste artigo é a proposição de um modelo conceitual e estrutural para a criação cinematográfica no contexto das novas mídias e em especial levando em consideração o advento do computador, pensado em termos de interação de linguagens e de criação artística. Este trabalho não é focado em especificações técnicas. O que se procura evidenciar são as conotações sígnicas do computador e o modo como sua existência pode afetar a criação cinematográfica e as artes: a necessária e incontornável interação das linguagens e a consequente criação de textos em palimpsesto (entendidos como textos construídos com múltiplas camadas) e de textos hipertextuais (entendidos como textos referentes a outros textos). Comparam-se as estruturas narrativas da história em quadrinhos Watchmen (Alan Moore e Dave Gibbons, DC Comics, 1986/87) e a de sua adaptação para o cinema, de Zack Snyder (2009). O filme de Snyder é um texto em palimpsesto em relação à história em quadrinhos, porque esta figura como base material para o filme, fornecendo a ele um nicho semiótico do qual extrair sua forma. A história em quadrinhos tem dentro de si mais de uma centena de referências, algumas aproveitadas no filme e outras não. De qualquer forma, ambas podem ser consideradas textos hipertextuais, pois seus corpos narrativos remetem a referenciais de linguagens distintas, muitas vezes com conteúdo bastante diverso. Para a concretização do filme, muitas referências da história em quadrinhos foram cortadas. Em clara contraposição a esse corte, um processo de adicionamento foi realizado: alguns elementos narrativos foram adicionados ao filme, muitos deles contendo referenciais artísticos agregados. O que mais chama a atenção é a natureza deste processo: não se trata de um simples adicionar, mas sim de um adicionar que se pode chamar de “semioticamente congruente”. “Semioticamente congruente” porque o acréscimo não se dá apenas para preencher lacunas, para atender a apelos comerciais ou para a confecção de um roteiro “mais palatável”, “mais mainstream”. O acréscimo de elementos semióticos no filme Watchmen é construído de tal forma que esses elementos criam uma relação de adição à obra original, em seus próprios termos semânticos originais: o filme vale-se do mesmo processo de junção de referencias artísticas variadas e díspares que a história em quadrinhos utilizou, extraindo os elementos extras de universos referenciais presumivelmente concernentes ao nicho conceitual da história em quadrinhos Watchmen. Apenas um exemplo é suficiente para que se entenda esse processo. No filme, a arte pop é citada, com Andy Warhol aparecendo à frente de uma exposição em que, como nas famosas pinturas de Elvis Presley e de Marilyn Monroe por ele realizadas, os heróis encapuzados de Watchmen são retratados. Tais referências não são encontradas na história em quadrinhos, mas sua aposição no filme é semioticamente congruente porque, na obra original, a transformação dos heróis em celebridades é abordada, no mais das vezes de forma irônica. Tal modelo de adaptação pode ser pensado como uma forma criativa de adaptação cinematográfica. Essa forma de adaptação tem como fundamento um contexto cultural que tem o computador como ferramenta primordial, o que faz com que sejam trazidas à tona as questões do enciclopedismo, do acúmulo de linguagens e de sua consequente sobreposição. Lendo a história em quadrinhosWatchmen, esse modelo computacional de construção pode ser inferido, e no filme vemos esse modelo gerando um fruto que ao mesmo tempo lhe é fiel e amplia suas possibilidades – e longevidade. |
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Bibliografia | FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
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