ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Afeto como economia produtiva e estética na produção pornográfica |
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Autor | Emerson da Cunha de Sousa |
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Resumo Expandido | Trata-se de pensar as novas formas de apelo estético que produtoras pornográficas criam e (re)produzem atualmente como meio de se atualizar frente a novas demandas comerciais da atualidade. O corpo continua sendo o centro de atenção dessas imagens, mas as afecções entre esses corpos – ou a forma como os corpos dos rapazes atores, no caso da pornografia gay, se afetam de forma cênica e pré-cênica – se tornam um elemento particularmente aproveitado. A ideia é pensar a produção não apenas pelo caráter textual ou estético, mas dentro de uma nova economia produtiva. Ir além da superficialidade das imagens, além do belo que elas podem nos imprimir ao olhar (FLUSSER, 2008, p. 40).
A pornografia acontece, é processo de quando um corpo está afetando o outro de maneira sexual. Por outro lado, sua carga de potência e de desejo no corpo do espectador vem pela forma como os corpos sexuais o atingem e o afetam: o corpo tocado através dos planos close, o gozo tornado visível e audível (ABREU, 1996), ou seja, os corpos hipervisibilizados, colocados em excesso (WILLIAMS, 1991). A pornografia caseira, a seu lado, trabalha com o aspecto da visibilidade, mas inscreve outros elementos textuais: o mistério do cotidiano, as relações afetivas dos corpos cotidianos não tão claras como na pornografia comercial, uma aparente espontaneidade. Elementos que deixam marcas, mapeadas pelo desejo do espectador, que se envolve com a imagem pelo seu grau de além-imagem, criando fantasia e magia, isso porque (...) a técnica mais exata pode dar pode dar às suas criações um valor mágico que um quadro nunca mais terá para nós. Apesar de toda perícia do fotógrafo e de tudo o que existe de planejado em seu comportamento, o observador sente a necessidade irresistível de procurar nessa imagem a pequena centelha do acaso, do aqui e agora, com a qual a realidade chamuscou a imagem, de procurar o imperceptível em que o futuro se aninha ainda hoje em minutos únicos, há muito extintos, e com tanta eloquência que podemos descobri-lo, olhando para trás. (BENJAMIN, 1987, p. 94) Nesse sentido, uma das proposições da pornografia comercial atualmente é recriar ou remontar espaços vácuos, esses vazios, essas relações afetivas dos corpos que se tecem além da imagem pornográfica, mas dentro de seu processo produtivo, que geram a curiosidade, a imaginação, a fantasia do espectador. Na pornografia leste europeia, tornou-se parte da economia produtiva que os rapazes contratados vivam praticamente juntos, em casas e apartamentos, e que a relação com os produtores seja também de gratificação e até de paternalismo, com presentes e alguns pequenos luxos no sentido de criar relações além da cena. As locações dão ideia de casa, e de segurança. Esse grau de afetação entre os atores e os respectivos produtores aproxima o que seriam apenas relações profissionais e comerciais para desembocar em uma imagem em que os corpos se deem com mais confiança e afeto. Além disso, criam no espectador curiosidade, empenho em buscar marcas de afetação desses atores e a magia por um mistério de como esses corpos se dão fora da cena, justo a apelo estético das imagens caseiras. Parto para essa reflexão tendo ciência e admitindo que essas imagens, de algum modo, me afetam. Mais que isso, tomo por objeto de pesquisa e pensamento as imagens que justamente me afetam: esse é meu critério. As imagens pornôs me são pedagógicas e construíram meu pensamento e desejo sobre sexo, corpo e prazer, assim como orientam meu pensamento sobre imagem e afetação. Pois é a partir da afetação que o pensamento corre, que o corpo é colocado em potência e em devir (SPINOZA, 2009); é afetado pelas imagens desses rapazes nus, é afetado pela imagem desses corpos que meus sentidos podem atender a curiosidades epistemológicas, pois de alguma forma, atendem a curiosidades de ordem corporais. Fato de afectos a partir do momento em que há em meu corpo afecção, em que o desejo me estimula tanto sexual quando cientificamente. Meta-afetação. |
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Bibliografia | ABREU, Nuno César. O Olhar Pornô. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 1996.
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