ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Análise dos indícios feministas presentes no filme Luzia-Homem (1987) |
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Autor | Carla Conceição da Silva Paiva |
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Resumo Expandido | Para o historiador Robert Rosenstone (1995), os filmes ficcionais, apesar de lidarem com as invenções necessárias para compor uma estrutura dramática (personagens, atores, figurino etc.) e para atender aos detalhes exigidos pela câmera (como iluminação, por exemplo), disponibilizam um significado histórico e uma forma de pensamento que se apresenta como uma provocação, uma reflexão, uma possibilidade de exploração sobre o passado, desde que seja reconhecido seu valor como uma construção, que, necessariamente, não precisa ser uma cópia fiel do mesmo, assim como um livro também não é. No final dos anos 1970, o também historiador Marc Ferro (1992), já nos alertava que “(...) toda história tem uma história que é história (p.17)” e reconhecia que “(...) um filme, seja ele qual for, sempre vai além de seu conteúdo, e, da mesma forma que escapa a seu censor, escapa também a quem faz a filmagem (p.28)”, independente das diferenças existentes entre a “possível objetividade” do filme documentário e “o poder de comunicação” da ficção. Essas assertivas e outras reflexões sobre as relações existentes entre cinema e história, bem como nossos estudos sobre o movimento das mulheres na década de oitenta no Brasil nos motivaram a investigar como o filme Luzia-Homem (1987) pode nos dizer algo sobre essa sociedade e as recentes conquistas feministas que a palavra escrita não pode nos contar. Dirigido por Fábio Barreto, essa película é uma transcriação para as telas de cinema da obra literária homônima , escrita por Domingos Olímpio, na primeira metade do século XX. O roteiro, caracterizado como uma produção coletiva, assinado por Bruno Barreto, Cacá Diegues, Tairone Feitosa, Aguinaldo Silva e o próprio Fábio Barreto, narra a história da pequena Luzia que escondida assiste ao assassinado de seus pais na caatinga cearense. Em seguida, é criada por um padrinho vaqueiro (Ruy Polanah), com quem já jovem (papel vivido pela atriz Claudia Ohana) adquire hábitos socialmente masculinos, como saber atirar e tocar o gado e após a morte de seu “protetor”, resolve se vingar daqueles que tiraram a vida de seus pais, indo trabalhar na fazenda Campo Real, onde se envolve emocionalmente, primeiro com o vaqueiro Torquato (Chico Diaz) e depois com os irmãos Alexandre (Thales Pan Chacon) e Raulino (José de Abreu) até descobrir que seu “alvo” era o jagunço Crapiúna (Gilson Moura) e assassiná-lo. Indicado como melhor filme, em 1988, no Festival de Cinema de Gramado, Luzia-Homem, para nós, proporciona uma leitura cinematográfica da história das mulheres no Brasil, nos anos 1980, por sua linguagem visual indicar traços sutis de um modelo de representação do feminino no nordeste, especificamente, e informações sobre influências históricas presentes no pano de fundo dessa trama ficcional. Para tanto, utilizaremos como método de investigação, além das proposições desses dois historiadores, a análise do discurso francesa (MAINGUENEAU, 2002) e suas recomendações sobre o exame de vestígios presentes no discurso e seus significados. |
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Bibliografia | FERRO, Marc. Cinema e história. Tradução Flávia Nascimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
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