ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | O crítico que não dormia – o filme de Navarro e as resenhas flutuantes |
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Autor | Marcos Pierry |
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Resumo Expandido | Egresso da geração super-oitista de Salvador, que produziu e lançou mais de 200 títulos entre meados dos anos setenta e início dos oitenta, Edgard Navarro, após ter figurado como expoente da pequena bitola, realiza curtas em 35mm de repercussão em festivais e o antológico média-metragem Superoutro, diversas vezes premiado em 1989 e desde então detentor de um reconhecimento ainda hoje crescente.
Navarro abandona a recessão cinematográfica do período Collor somente em 2002, engatilhando o projeto do primeiro longa, Eu Me Lembro, que três anos depois, com sete dos principais prêmios no Festival de Brasília, ganharia uma acolhida promissora nos ambientes de legitimação do chamado cinema de autor. Balanço intimista dos anos de chumbo e desbunde, o filme é conduzido por narração off subjetiva, na voz do próprio cineasta, e traça um painel particular da experiência da ditadura militar por meio de um personagem alter-ego, Guiga. Autobiográfico, trata ainda de repressão e vínculos afetivos no seio familiar. Eu Me Lembro fez um público pouco superior a 20 mil espectadores. Mas obteve uma cotação estrelada da maior parte da crítica, foi ovacionado pela imprensa na Bahia e fez o diretor circular por mostras em diversos países (Portugal, França, Espanha, Itália, Canadá, Estados Unidos). O “sucesso” do filme pavimentou o lançamento de sua versão em DVD e consolidou Edgard Navarro, tanto quanto possível, como uma celebridade da banda alternativa do showbiz cultural. Retomada de um projeto acalentado há três décadas, O Homem Que Não Dormia, o segundo longa, da mesma forma que o primeiro, é concretizado com as vicissitudes, dificuldades e atrasos do mercado nacional. Ao custo de um orçamento em torno de R$ 2,5 milhões, o filme ganha a primeira projeção pública no Teatro Castro Alves, Salvador, em julho de 2011, em sessão promovida pelo Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual. Precedida de um teste de audiência em Brasília meses antes, a sessão especial na Bahia, já com o corte definitivo, não deixava de ser um ensaio para a tentativa de voltar à capital federal, com o filme selecionado para a mostra competitiva de longas no mesmo festival que havia consagrado o trabalho anterior de Navarro em 2005. O que se pôde constatar nos meses seguintes à primeira projeção foi uma considerável variedade de manifestações, não raro contraditórias e febris, em jornais impressos e blogs, especialmente após o mês de outubro, com a exibição no Festival de Brasília, para o qual o filme fora finalmente selecionado. Para uns, O Homem Que Não Dormia foi visto como um achado, a confirmação do estabelecimento de um auteur, cujas marcas vinham pressentidas desde Eu Me Lembro e trabalhos anteriores. Para outros, que até reconheceram um nível de originalidade no filme, o cineasta baiano tentara voar muito alto e acabou se aproximando demais do precipício. Brasília, desta vez, legou apenas uma estatueta secundária ao longa, a de ator coadjuvante. Na Mostra de Tiradentes, em janeiro de 2012, exibido fora de competição, o filme foi ovacionado por uma platéia de 500 pessoas e elogiado por críticos de diferentes regiões. A reavaliação dos méritos estéticos de uma obra não é exatamente novidade no meio cinematográfico. Há, por exemplo, os casos emblemáticos de Cidadão Kane, de Orson Welles, e da filmografia de Alfred Hitchcock, que progressivamente passam a desfrutar de grande prestígio após a releitura dos jovens críticos franceses da década de cinquenta – Truffaut e outros que constituiriam a nouvelle vague. A partir da análise do filme e da dinâmica de sua recepção, esta comunicação tem por objetivo discutir aspectos mais que latentes da interlocução obra-crítica-espectador, em suas possíveis triangulações, ante o cenário do cinema e da indústria cultural brasileira pós retomada. A proposta envolve a revisão de textos publicados em veículos de grande circulação da mídia impressa e em blogs especializados, além de entrevista com alguns dos autores e com o cineasta. |
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Bibliografia | BAZIN, André. O Cinema da Crueldade. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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