ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | O "Cine Acción" de Raymundo Gleyzer e do grupo Cine de la Base |
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Autor | Cristina Alvares Beskow |
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Resumo Expandido | Os filmes do grupo Cine de la Base foram produzidos num contexto em que cineastas da América Latina discutiam o Novo Cinema Latino Americano (NCLA), movimento cinematográfico que enxergava o cinema como um instrumento de reflexão e de transformação social. Os filmes do NCLA são marcados por um forte caráter de denúncia sobre a condição socioeconômica dos países da América Latina e, para além do caráter político, estes filmes, baseados numa estética de ruptura, buscam representar de outra forma a realidade dos países subdesenvolvidos.
A produção do cineasta argentino Raymundo Gleyzer é fortemente marcada por estas características. Seu primeiro documentário, La tierra quema, foi feito em 1964 e aborda a miséria dos camponeses no nordeste do Brasil. Em 1968, trabalhou na produção do clássico La hora de los hornos, de Fernando Solanas, filme que inspirou a elaboração do manifesto El tercer cine, escrito por Solanas e Octavio Getino. A ideia era pensar um "terceiro cinema", diferente do hollywoodiano (o primeiro cinema) e do cinema de autor europeu (o segundo cinema). O manifesto defendia a necessidade de um terceiro: o cinema militante, o "cine acción". Segundo Solanas e Gettino, "o cinema revolucionário não é fundamentalmente aquele que ilustra, documenta ou fixa passivamente uma situação, mas o que tenta incidir nela, sendo um elemento condutor ou retificador. Não é apenas um cinema testemunho ou cinema comunicação, mas antes de tudo um cinema ação" (SOLANAS & GETINO, 1973, p. 76). O filme cumpre, assim, um papel político num contexto histórico. Não só representa uma realidade, mas interfere e age sobre ela: esclarece, politiza e serve como instrumento de mobilização, revelando o "tremor das imagens" como resultado de uma ação política (LEANDRO, 2011). A imagem deixa de ser só registro e memória para impulsionar o engajamento social contra um sistema de injustiças. É neste mesmo período que outros cineastas da América Latina sistematizaram suas ideias em manifestos, como o brasileiro Estética da fome, escrito por Glauber Rocha, e os cubanos Cinema urgente de Santiago Alvarez, e El cine imperfecto, de Julio García Espinosa. Para além de uma proposta conteudista, de abordagem de temas políticos revolucionários, alguns destes grupos avançaram no sentido de pensar uma estética de rompimento com os padrões vigentes, uma forma que fosse um estímulo à reflexão e à transformação. Cabe ressaltar que o mundo encontrava-se em guerra fria, dividido entre dois projetos políticos antagônicos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, liderado pela União Soviética. Nesta conjuntura, a partir da década de 60, a América Latina é tomada por ditaduras apoiadas pelos Estados Unidos, que em alguns países chegaram a durar décadas. A partir da década de 70, então, Gleyzer entra para o Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT) e, em 1973, funda o grupo “Cine de la Base”, junto a amigos militantes. A proposta era utilizar a câmera como um instrumento de luta, fazendo a denúncia das desigualdades e defendendo a necessidade de uma revolução social. Para concretizar esta proposta, produziam filmes coletivamente e projetavam em espaços alternativos, em sessões clandestinas, por causa da repressão política. A filmografia de Raymundo Gleyzer inclui 12 filmes. Em maio de 1976, ele foi sequestrado por agentes da ditadura militar da Argentina. Descobriu-se, neste mesmo período, que foi preso e torturado na prisão clandestina “El Vesubio”. Seu corpo nunca foi encontrado. O documentário em curta-metragem Me matan si no trabajo y si trabajo me matan vai ser aqui analisado a partir dos seguintes pilares: o tema abordado, a forma como o filme retrata a realidade (roteiro, narrativa, tipos de imagens utilizadas, trilha sonora, vozes presentes e o processo de produção). Abordarei os principais elementos que compõem este filme militante, a partir de uma questão norteadora: o que o caracteriza como um "cine acción"? |
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Bibliografia | AVELAR, José Carlos Avellar. A ponte clandestina: teorias de cinema na América Latina. Rio de Janeiro/São Paulo: de. 34/ Edusp, 1995.
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