ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Encontros e desencontros no cinema pós-colonial de Moçambique |
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Autor | Gustavo Soranz |
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Resumo Expandido | Depois de 10 anos de conflito armado, em 1975, Moçambique conseguiu sua independência de Portugal, passando a se chamar República Popular de Moçambique. As lutas pela descolonização foram conduzidas pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), liderada por Samora Machel, que assumiu como novo presidente do país. O cinema teve papel importante durante os anos de guerrilha e a FRELIMO convocou cineastas da Europa e dos Estados Unidos para registrar a revolução. Desta safra podemos citar o documentário Vinceremos (1965), dirigido por Yugoslav Dragutin Popovic, que foi filmado clandestinamente nas frentes de batalha para mostrar os progressos da luta pela libertação. (DIAWARA, 1992). Em um país recém-saído de um regime de exploração, com elevados índices de analfabetismo, o cinema tinha um papel importante na comunicação com a massa popular. Ciente do poder da imagem, uma das primeiras ações do governo da FRELIMO foi criar o Instituto Nacional de Cinema (INC), apenas 5 meses após a implantação da nova república. A partir de 1978, o Instituto passou a produzir um cinejornal periódico chamado Kuxa Kanema, que significa “o nascimento do cinema”, palavra obtida da junção de dois dialetos moçambicanos. “Kuxa”, do dialeto Runga, que significa “nascimento” e “Kanema”, do dialeto Makua, que significa “imagem”. (UKADIKE, 1994). Nesse mesmo ano, o cineasta Ruy Guerra, importante diretor do Cinema Novo brasileiro, nascido em Moçambique, tornou-se diretor do Instituto, conduzindo um plano para produzir imagens do país que refletissem o projeto político e revolucionário conduzido nas lutas pela descolonização. Imagens de uma nação em busca de sua transformação social. Em 1979 Ruy Guerra dirige aquele que seria o primeiro longa-metragem dirigido por um moçambicano, Mueda: memória e massacre, onde ele encena o massacre de 600 pessoas pelo exército português na vila de Mueda, em 1960.
Além do projeto do INC, outras ações simultâneas no campo do cinema e da televisão aconteceram em Moçambique. Recém-saído da experiência militante com o Grupo Dziga Vertov e envolvido em trabalhos videográficos para a TV francesa, Jean-Luc Godard foi convidado pelo governo Moçambicano para desenvolver um estudo para a implantação da TV no país, baseado no uso do vídeo como suporte. Para Godard essa era a oportunidade de explorar um terreno fértil, explorando novas formas narrativas, aproveitando-se que o país ainda não tinha contato prévio com a televisão, não estando colonizado pelos conteúdos típicos das redes retransmissoras. Outro nome convidado pelo governo moçambicano foi Jean Rouch, que levou ao país um projeto de formação de cineastas em bitola super 8mm, desenvolvido com o apoio do departamento de comunicação da Universidade de Maputo, onde ele poderia aprofundar seus métodos de trabalho com equipamentos leves e portáteis, com equipes reduzidas e baixos orçamentos, desmistificando a ideia da necessidade de super produções. Os projetos tocados pelos três grandes cineastas em Moçambique tem uma simultaneidade histórica. Em 1978, no mesmo ano em que o INC lança o cinejornal Kuxa Kanema, Jean-Luc Godard é convidado para sua experiência com a TV moçambicana e Jean Rouch implanta seu projeto de formação de cineastas em suporte super 8 mm, porém, a continuidade dos projetos não se deu exatamente de maneira harmoniosa revelando diferenças irreconciliáveis entre os três grandes cineastas. A despeito das críticas e acusações levantadas entre os principais envolvidos nos episódios, tais experiências inscreveram Moçambique em um episódio importante na história do cinema, notadamente na história do cinema militante, do cinema socialmente engajado. Por outro lado, ainda que breve, tais experiências certamente deixaram seu legado para o futuro do jovem cinema de Moçambique. |
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Bibliografia | BAMBA, Mahomed. O parti-pris ideológico e estético de dois brasileiros na formação de um cinema pós-colonial em Moçambique (anos 70-80). IN: Interim, vol. 12, nº 2, 2011.
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