ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A ficção científica contemporânea diante do seu legado cinematográfico |
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Autor | Gelson Santana |
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Resumo Expandido | O cinema de ficção-científica passou (aparentemente) por cinco fases: na primeira, trabalha as narrativas a partir do maravilhoso (daquilo que assombra), dos impactos que este maravilhoso causa na humanidade – um herdeiro direto deste modelo é Steven Spielberg com filmes como Contatos imediatos do terceiro grau e ET, por exemplo; na segunda, as narrativas constroem uma espécie de cientificidade que desenha diretamente os caminhos do humano – o ponto alto deste modelo é, certamente, 2001 – uma odisséia no espaço, Stanley Kubrick; o terceiro momento é protagonizado por Guerra nas estrelas, de George Lucas, que introduziu uma fase fabular na ficção-científica; na quarta fase os padrões narrativos se estabelecem em cima do tecnológico – um ponto alto deste modelo é Blade Runner - caçador de andróides, de Riddey Scott; o quinto modo trabalha com o próprio legado do gênero e a narrativa carrega em si um dejá-vue de imagens de ficção, ao mesmo tempo em que mistura os outros quatro tipos. Esse modelo de ficção científica, que começa a dominar, não está interessado diretamente no gênero como entretenimento, mas como valor, na medida em que faz mediações entre o científico e/ou tecnológico em busca de verossimilhança.
A ficção científica contemporânea emerge do legado, ou se vale do legado, da cultura pop, um filme em particular me chama a atenção por seu mergulho “radical” e sem pudor na ficção científica enquanto imagem já construída e não mais através dos mecanismos de construção frequentemente utilizados: a ciência e a tecnologia; trata-se do filme do diretor inglês Danny Boyle, Sunshine – alerta solar (2006). Olhando do ponto de vista de Sunshine o gênero passa por um momento de desconstrução que atinge sua próprio história. No estado atual das coisas a ficção científica como gênero não “enxerga” mais um futuro, mas um acúmulo de passado que parece barrar qualquer experiência de um amanhã, de um olhar mais à frente. A ficção científica volta-se para seu próprio legado não mais como passado – mas como uma memória presente que pode ser retomada e articulada como uma espécie de fantasma do futuro. Os personagens do filme de Danny Boyle estão sempre mergulhados em experiências intensas. E a narrativa costuma jogar o tempo todo com estas experiências. Por isso, o diferencial dramático acontece em função do esvaziamento do pathos dramático, naquilo que vem ser a ser a ficção, no lisível da narrativa fílmica. Estas experiências carregam toda uma prática marcadamente calcada em um imaginário que emerge do legado de imagens do passado para se configurar como presente e não propriamente como uma ideia de futuro. Evidentemente qualquer uma das cinco fases podem sofrer uma divisão interna, dessa forma, alguns filmes aparentam colocar em primeiro plano, em um determinado momento, a ciência em outro a tecnologia, ao mesmo tempo, relega aspectos narrativos que dão verosimilhança para segundo plano. Matrix é um bom modelo dessa aparente ambiguidade, neste sentido o filme parece habitar a fronteira entre a quarta e a quinta fase da ficção científica. A necessidade de reificar uma existência tecnológica parece ter parado como proposta para o gênero em Blade Runner - caçador de andróides. Depois disso, aos poucos, a ficção cientifica mergulhou em uma espécie de estado de abandono da própria margem segura de futuro que alimentava a necessidade de afirmar um lugar feito diretamente à imagem da tecnologia e da ciência. Por isso, se a tecnologia não mais configura um futuro na ficção científica funciona ao menos em filmes como Lunar (Moon, 2009), de Duncan Jones, como uma ideia de futuralidade. E, ao mesmo tempo, mostra-se como uma espécie de dejá-vue. Um dejá-vue não como repetição do já “experienciado” enquanto estratégia instituidora do gênero, mas como efeito que corporifica, mesmo que fantasmaticamente, este modo narrativo. |
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Bibliografia | CHANDLER JR., Alfred D. O século eletrônico. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
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