ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Atravessamentos das imagens – entre a fotografia e o cinema |
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Autor | Antonio Pacca Fatorelli |
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Resumo Expandido | O advento da fotografia significou a emergência de uma forma visual de características substancialmente distintas das exibidas pelas tecnologias imagéticas precedentes. Ao automatismo da inscrição, que modificou de forma decisiva a relação entre a imagem e a cena retratada, acrescentou-se, logo a seguir, os efeitos decorrentes da reprodutibilidade do suporte fotossensível. A inscrição automática das aparências promoveu a valorização do efêmero, do casual e do contingente, que se tornaria paradigmática da produção visual do século XX, enquanto a reprodutibilidade, referida ao modo singular da fotografia criar signos móveis e intercambiáveis, consignou o seu lugar de destaque na economia simbólica do modernismo.
A modernidade da fotografia encontra-se associada a essa operação inaugural à qual ela submete os objetos e os sistemas de imagens, convertendo-os em signos móveis e intercambiáveis. Operação que consiste na conversão de artefatos e eventos, naturais e sociais, ao formato fotográfico. Tal operação de transcodificação confere à fotografia o papel de um equivalente geral, de um elemento central na economia das mercadorias, comparável à lógica de pura diferenciação e de articulação em unidades discretas do sistema monetário, a forma exemplar do sistema de trocas nas sociedades industriais modernas. (Cf. Crary, 1992, Krauss, 1999, Gunning, 2004 e Mary Ann Doanne, 2002). Toda uma nova lógica de relações entre o observador e as imagens – relações à distancia e temporalmente dissociadas – estabelece-se a partir desta mobilidade dos signos. Esses deslocamentos, que incorporam novos modos de ser e de inferir relações espaciais e temporais, foram exemplarmente diagnosticados por Benjamin (Benjamin, 1994, 169) em sua análise do declínio da aura, como uma transição que resultou na dissolução das relações espacialmente reguladas entre a obra e ao observador. As tecnologias eletrônicas e digitais viriam acrescentar ainda um novo vetor de virtualização à essa dinâmica reprodutiva da fotografia, agregando ao seu tradicional papel de equivalente geral dos sistemas de trocas nas sociedades modernas, as potencialidades relativas à sua condição singular de imagem projetada. Uma vez mediada pelo vídeo e pelas tecnologias digitais, a fotografia sobrepõe à sua face de imagem-objeto, dotada de peso e espessura, a condição de imagem imaterial, dependente dos sistemas de projeção e de diferentes superfícies de reflexão, como telas, anteparos e écrans. Transição que pode ser identificada na passagem da foto película, cativa de uma moldura e passível de ser reproduzida, para a foto projeção, quando prevalece a natureza imaterial dos feixes de luz. Toda uma nova disposição para o trânsito e para as passagens entre as imagens se apresenta nessa condição de imagem projetada. Dissociada do seus suportes materiais, dos filmes e papéis fotográficos, a fotografia projeção migra dos passepartouts e molduras para diferentes tipos de telas, onde predominam as questões de transparência e de opacidade da projeção. Mutação manifesta na transição das ‘imagens-objeto’ (Dubois, 2009: 88) para as imagens processo. Essa singular plasticidade alcançada pela foto projeção proporciona, e essas conquistas são determinantes, a emergência de relações singulares por parte do observador – de participação, de interação e de interferência –, além de novos modos de encadeamento com as imagem em movimento do vídeo e do cinema. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Entre-imagens – foto, cinema, vídeo. Campinas: Papirus, 1997.
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