ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | O realismo e o trágico nos documentários biográficos no Brasil |
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Autor | Cristiane Freitas Gutfreind |
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Resumo Expandido | Neste texto pretendemos analisar os longas-metragens biográficos documentais sobre a ditadura militar brasileira realizados entre 2002 e 2011 através do uso do realismo como estratégia estética. Os filmes biográficos são utilizados como uma opção estética recorrente desde os primórdios do cinema, pois conseguem legitimidade ao evocar um personagem real, misturando de forma inextricável detalhes autênticos, lugares comuns e traços fictícios. Refletir sobre filmes que abordam personagens que vivenciaram “catástrofes históricas”, como a ditadura militar brasileira, nos permite pensar a maneira de fazer, assistir e falar sobre essas histórias para criar arquivos de imagem visual. Os arquivos fazem-se necessários como veículos de conhecimento e instrumentos de construção histórica, mas, em última instância, as estratégias estéticas para alcançar esses objetivos é que são questionadas e que imprimem a sua valoração. Esse texto pretende então, entender as escolhas na estética e no estilo em filmes biográficos cuja temática corresponde ao trágico-histórico. Essas situações traumáticas geram transformações importantes nas formas de representação cinematográfica devido ao seu papel fundamental como testemunho (KRACAUER, 1997), participando da construção do conhecimento, da reformulação da ideia de representação, da (re) organização da memória, das influências éticas e das articulações políticas. Analisar os documentários biográficos permitem-nos, portanto, identificar fenômenos históricos, definir e desmitificar a permanência de certos traços, estilos e discursos culturalmente determinados. De acordo com Kracauer (2006), esse tipo de análise sustenta a relação entre a escrita da história e a concepção cinematográfica resultando em uma poética de escrita crítica, que contribui com a história dos discursos críticos. Faz-se importante então, refletir como o documentário biográfico que evoca sempre um personagem real e transita entre outros gêneros, como o filme histórico, o filme político e o filme testemunho, questiona as preocupações dramáticas, estéticas ou pedagógicas da história sobre a ditadura militar. Em sendo assim, esses filmes permitem identificar o que uma sociedade pensa dela mesma e, especificamente, no caso desse texto, que discursos críticos são criados através dos documentários sobre a ditadura militar.
Assim, nesses filmes, o realismo aparece como um recurso frequente para a construção de uma estratégia dramática, pois capta as emoções, através do personagem que vivenciou a história, ajuda a exorcizar o trauma e atualiza o acontecimento no presente. Essa estratégia pode ser entendida como um instrumento importante para a compreensão do presente transformando, reinterpretando o passado, interagindo, dessa forma, entre o vivido e o transmitido. |
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Bibliografia | AARÃO REIS FILHO, Daniel; RIDENTI, Marcelo; e MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O golpe e a ditadura militar – 40 anos depois (1964-2004). Bauru: Edusc, 2004.
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