ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A apropriação política das imagens nas manifestações contemporâneas |
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Autor | KENIA CARDOSO VILACA DE FREITAS |
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Resumo Expandido | Em 2011 as ruas do Chile foram tomadas por estudantes secundaristas revoltados com o sistema educacional. O endividamento compulsório ao qual os jovens devem se submeter para obterem uma formação foi o motivador de uma greve nacional que perdurou por meses. Manifestações gigantescas levaram milhares às ruas da capital do país. O engajamento político tão intenso tornou-se mais relevante por acompanhar diversos outros movimentos de reivindicação no mundo, como a Primavera Árabe (Egito, Tunísia), os Indignados na Espanha (15M) e as ocupações do espaço público nos EUA (Occupy Wall Street).
Focos tão diversos e uma estratégia antiga em comum: a retomada da cidade pelos cidadãos. Também em comum a organização pela rede, mobilização, prática política e divulgação: as esferas de produção de filmes e textos nas redes sociais se indiscernem – são todas táticas de luta. As manifestações no Chile nos parecem emblemáticas no sentido de trazerem para dentro do movimento ícones da comunicação de massa – a performance, a paródia e a reapropriação confundem-se com a própria criação de resistência. A produção audiovisual dessas apropriações foi fundamental não só para a divulgação, mas também para a construção do movimento. Assim, podemos ver imitações de coreografias de cantores pops como Lady Gaga (http://youtu.be/LC69_9AyJlg) ou Michael Jackson (http://youtu.be/tR12Vi6BvrI), como práticas de expressão artística dos estudantes, que não estão apartadas dos aspectos políticos. Ao contrário, é um dos agentes que impulsionam a participação – no caso da coreografia da música Judas, de Lady Gaga, podemos assistir inclusive a um vídeo tutorial (http://youtu.be/qLvGMsFSrTc) disponibilizado na rede para ensinar os passos da dança aos demais manifestantes. A reapropriação também se dá pelas paródias imagéticas, com a utilização de virais da rede, como o trecho com legendas trocadas do filme A queda - as últimas horas de Hitler (Der Untergang, Alemanha, 2004), disponibilizado em http://youtu.be/eX_vbhD0TFs. No entanto, um dos casos mais interessantes é a apropriação que os estudantes chilenos fizeram da série animada Dragon Ball-Z. Nos vídeos http://youtu.be/Nrx9q8fFlLc e http://youtu.be/pRgCgr5GOn4 os estudantes fazem uma performance com símbolos e personagens do desenho. Também, existem os casos de pura apropriação imagética: http://youtu.be/hA1ajljbsUw. Por fim, o momento em que a reutilização de imagens do desenho se encontra com a performance na rua dos estudantes: http://youtu.be/oeYUg-EigtM. Nesse caso, temos uma mistura entre a reapropriação das imagens do desenho e a performance dos estudantes na rua – o mundo ficcional invade definitivamente o terreno político. Esses movimentos mobilizados pelas redes sociais e informacionais na internt têm como estratégia fundamental usar novos elementos de comunicação para a ocupação do espaço urbano – o download do ciberespaço na cidade (LEMOS, 2009). Ao mesmo tempo, em que procedem pelo desvio de significado da mídia de massa e da cultura audiovisual e apropriação da sua linguagem. São essas relações entre as lutas políticas recentes, a construção e apropriação de suas imagens e sua expansão pelas tecnologias móveis de comunicação que pretendemos discutir. Nos apoiando nos conceitos de apropriação de imagens do cinema de found footage (WEINRICHTER, 2010); de desvio de imagens do movimento Situacionista nos anos 1970; e da cultura do sampleamento dos grupos hackers e ativistas digitais desde o meio dos anos 1990. Com essa base analisaremos os filmes produzidos pelos manifestantes e suas operações culturais e imagéticas. |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992.
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