ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Sobre como silenciar o filme: ruídos de fundo e ruídos de máquina |
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Autor | JOSE CLAUDIO S CASTANHEIRA |
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Resumo Expandido | A clássica divisão do som fílmico em diálogos, música e ruídos nos apresenta uma questão de significação. Abordagem cara aos estudos estruturalistas, a necessidade de atribuir determinados sons a determinadas fontes, ignora a materialidade dos objetos sonoros e sua capacidade de produzir efeitos para além das esferas da linguagem. Alguns tipos de sons transcendem ou mesmo questionam a ideia de representação de objetos ou eventos por meios sonoros. Entre eles podemos citar o ruído, em suas diferentes formas; o silêncio, elemento não menos plural; e os sons das próprias tecnologias. Estes últimos carregam a assinatura sonora dos diferentes modelos de produção, histórica e culturalmente determinados. As teorias tradicionais, baseadas em práticas interpretativas e na busca de sentidos ocultos sob a forma do filme, de modo geral, ignoram essas dimensões sonoras. O filme, analisado como texto, não permite um recorte tão especifico, ao mesmo tempo limita novas abordagens teóricas. No caso específico do ruído, visto como algo que dificulta os mecanismos representacionais através de interferências e distrações, notamos como as tecnologias de gravação e edição perpetuam um discurso que se funda na erradicação de qualquer elemento sonoro que não permita um nível mínimo de inteligibilidade. Algumas questões mais amplas, como a oposição entre analógico e digital - como se o primeiro fosse o modelo mais propício à produção de ruído e o segundo representasse uma instância de maior pureza, melhor relação entre sinal e ruído e maior proximidade com o objeto original -, são frutos desse discurso. No caso das tecnologias de som (isso pode, claro, se estender às imagens) e o modo como, a partir delas, constroem-se novos modos de ouvir o filme, podemos perceber como essa assinatura sonora vem mudando com o tempo. Obviamente contaminada por outros movimentos da cultura contemporânea, vemos estabelecer-se uma certa inaudibilidade nos filmes atuais. Um "silêncio dos alto-falantes", como diz Chion (2009). Não ouvimos mais o filme. Em contrapartida, a audibilidade de modelos mais antigos reveste-se de uma nostalgia que atribui a determinados ruídos uma capacidade de trazer de volta o passado.
Partindo de hipóteses apresentadas por Andy Birtwistle (2010), este trabalho propõe uma investigação sobre essas diferentes formas de perceber o filme enquanto matéria audível, para além de parâmetros exclusivamente representacionais. A noção, por Aden Evens (2005) de ruído de fundo enquanto movimento entrópico de reverberações em busca de equilíbrio e, ao mesmo tempo, modificador do evento sonoro, dotando-o de maior expressividade, nos ajuda em nossas conclusões. |
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Bibliografia | CHION, Michel. Film, a sound art. New York: Columbia University Press, 2009.
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