ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Barravento: o feminino negro no cinema novo de Glauber Rocha |
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Autor | Ceiça Ferreira [Conceição de Maria Ferreira Silva] |
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Resumo Expandido | Diante da onipresença e influência nos diversos espaços de vivência e sociabilidade contemporâneas, pode-se considerar as narrativas midiáticas enquanto elementos representativos da ordem do mundo e preponderantes na construção e naturalização do imaginário social, este que segundo Swain (1993) trabalha um horizonte psíquico habitado por re¬presentações e imagens canalizadoras de afetos, desejos, emo¬ções e esperanças; e é também onde são compostos e decompostos os sentidos por meio de formações discursivas que definem perfis, tipos e papeis sociais.
Acerca dessas relações e interferências dos conteúdos midiáticos e cinematográficos na formação das identidades, deve-se apontar o grande desafio no qual se configura a construção de uma identidade negra no Brasil. Pois, ainda se mantém resquícios dos mais de três séculos de sistema escravista nas mais diversas formas de racismo, em especial a violência simbólica, que ora pela invisibilidade, ora pelo estereótipo tem ensinado a mulher e ao homem negro que para serem aceitos, precisam negar a si mesmos (PEREIRA; GOMES, 2001). Neste contexto, este trabalho propõe-se a analisar os processos de conformação e transformação de imaginários do feminino negro no filme Barravento, de Glauber Rocha. Lançado em 1962, este filme é uma das principais produções do Cinema Novo, movimento que surgiu como uma forma de crítica ao modelo de grandes estúdios existente no país, na década de 1960. Baseava-se em uma nova perspectiva cinematográfica denominada “estética da fome”, defendia a proposta de um cinema independente, um cinema de autor e a criação de novas narrativas, por meio das quais se buscava discutir a realidade brasileira. A partir das reflexões de Sovik (2009) acerca da branquitude e da mestiçagem para se discutir a complexidade das relações étnico-raciais no Brasil; e dos estudos de cinema sob o viés feminista e de gênero, com as leituras de Mulvey (1991) e Kaplan (1995), que utilizando a teoria psicanalítica desenvolvem uma análise da representação da mulher no cinema clássico, objetiva-se analisar os processos de conformação ou transformação de imaginários relacionados à mulher negra, presentes nesse primeiro longa de Glauber Rocha, por meio da análise da personagem Cota. Apesar das várias inovações e rupturas que propõe na criação de uma nova linguagem cinematográfica, principalmente no que se refere à identificação, já que o cinema novo visava a conscientização do espectador, a questão de gênero não faz parte da ótica glauberiana em Barravento, visto que a representação da mulher negra ainda apresenta aspectos de um imaginário hegemônico, na qual ocupa predominantemente o lugar de objeto sexual, como a “mulata”. Talvez por que a questão da mulher e os feminismos que eclodiram na década de 60, ainda não estivessem em pauta como atualmente, ou pode-se pensar na hipótese de que o objetivo de Glauber Rocha não fosse denunciar/problematizar essa objetificação do feminino negro, discurso muito presente no cinema, assim como em outros veículos de comunicação, como revistas e materiais publicitários, que historicamente tem representado a mulher negra como sexualmente disponível, e ainda hoje compõem o grande chamariz do turismo sexual, que atrai estrangeiros ao Brasil em busca “do que é que a mulata tem”, contribuindo assim para perpetuar o racismo e a condição de subalternidade que historicamente recai sobre a mulher negra. |
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Bibliografia | CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Revista Estudos Avançados. Instituto de Estudos Avançados da USP. n.17 (49), 2003, p.117-132.
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