ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Montagem horizontal em Dimanche à Pekin e Lettre de Sibérie, de Marker |
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Autor | Emi Koide |
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Resumo Expandido | O presente trabalho propõe analisar a relação entre imagem, texto e som na montagem dos primeiros filmes de Chris Marker – Dimanche à Pekin (1955) e Lettre de Sibérie (1957), tendo em vista que são estes filmes que a partir dos textos críticos de Bazin são denominados como filmes ensaios, cuja montagem denominada como horizontal caracterizaria um dos procedimentos inovadores que marcam outros filmes markerianos. No célebre texto sobre Lettre de Sibérie, Bazin (1958/1998, p. 258- 259) diz que sendo a imagem o material principal do cinema, Marker teria invertido tal primazia da imagem, que “intervém somente numa terceira posição em referência a esta inteligência verbal”. Ou seja, haveria no trabalho de Marker uma precedência da palavra, do texto como manifestação da inteligência em relação à imagem. O crítico ainda se refere a este procedimento que vai do “ouvido ao olho” como montagem horizontal, na qual Marker inaugura uma montagem que revela outra dimensão, em que não há unicidade de sentido (no qual corre a película), apresentando uma imagem após a outra, mas que as traz lado a lado, como uma montagem em justaposição relacionada ao som. Esta observação de Bazin é constantemente recuperada em diversos trabalhos sobre Marker. Além disso, o famoso trecho de repetição de uma mesma sequência de imagens com diferentes comentários é frequentemente citada como exemplo sobre o funcionamento da relação entre imagem e som no cinema.
É interessante observar também que ao menos dois artigos recentes tratam da relação entre Bazin e Marker, procurando refletir sobre as diferenças e aproximações entre os dois autores, as mútuas influências no posicionamento em relação ao cinema e as suas divergências. Sarah Cooper (2010), em “Montage, Militancy, Metaphysics: Chris Marker and André Bazin”, trata da relação próxima entre os dois, no contexto do pós-guerra na revista Esprit, chamando atenção, num primeiro momento, para o posicionamento de Bazin, que na maior parte de seus textos críticos defendeu o realismo e a continuidade espaço-temporal em detrimento da montagem, diferentemente da prática markeriana nos primeiros filmes. Adiante, Cooper aproxima ambos, ao apresentar uma interpretação em que Marker, em filmes posteriores, sobretudo em La Jetée (1962) e Joli Mai (1962), repõe a consideração ontológica de Bazin sobre a fotografia, relacionando morte e uma espiritualidade secularizada. Outro trabalho, “Cut and Spark: Chris Marker, André Bazin and the metaphors of the horizontal montage” de Jennifer Stob (2012), através da análise de textos críticos de Bazin sobre Marker — ao menos oito textos para além do célebre citado — relacionando-o ao corpo teórico mais amplo do crítico, apresenta uma perspectiva em que para além da percepção e do elogio sobre uma montagem que desafia a primazia da imagem, subsistiria uma preocupação e uma crítica em relação a este novo agenciamento em que o material gravado de imagens em movimento jogaria em igualdade com outros elementos fílmicos. Lembremos ainda que muitas vezes Marker, desde a crítica de Bazin, é considerado um autor na qual o texto ou comentário possui uma importância chave em seus filmes em detrimento das imagens. Ainda, há a relação dos filmes com os comentários publicados em livros, ou ainda seus livros de fotos e textos, como indica Eric Trudel (2008, p. 235): os comentários publicados, de Dimanche à Pekin e Lettre de Sibérie, seriam obras literárias independentes do filme ou não? Partindo de tais considerações e da observação destes primeiros filmes – Dimanche à Pekin e Lettre de Sibérie – propomo-nos a analisar e refletir sobre a relação entre imagem, texto e som, repensando o estatuto do comentário nestas obras e no filme-ensaio de Marker. |
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Bibliografia | ALTER, Nora. Chris Marker. Chicago: University of Illinois Press, 2006.
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