ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A erva do rato, o minimalismo pictorializante do cinema de Bressane |
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Autor | Jorge Vasconcellos |
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Resumo Expandido | O que aqui pretendo fazer é uma análise filosófica de uma determinada obra cinematográfica, justamente, A erva do rato de Júlio Bressane. A partir dela, procurarei mostrar como se articulam arte e pensamento, filosofia e cinema. No entanto, antes de tudo, partiremos de uma clivagem de interesses e direções no desenho deste ‘mapa’ teórico. A princípio, trata-se de marcar um campo e uma área de saber que possa vir a se distinguir, segundo nossa perspectiva, sobremaneira, da chamada teoria do cinema, apesar de com ela dialogar. Falamos de uma filosofia do cinema. Explico-me então.
O que aqui denomino de “filosofia do cinema” é, sem sombra de dúvidas, um tipo de teoria do cinema, entretanto, também é verdade, evidentemente, que nem toda teoria cinematográfica é uma filosofia do cinema. Logo, tomarei como ponto de partida esta distinção. Procurarei mostrar que nossa tarefa é definir um campo e uma área de saber que articule filosofia e arte cinematográfica, procurando assim constituir ao audiovisual, e ao cinema em particular, um campo da estética filosófica que lhe seja próprio, com seus problemas, conceitos e autores axiais. Filosofia do cinema não se confunde propriamente com as teorias cinematográficas por pelo menos dois pontos. Definiremos de antemão que uma dessas perspectivas estaria além do cinematográfico e a outra estaria aquém do que é o cinema. Como ponto inicial apresentamos o primeiro dos casos em que aquela – a ‘filosofia do cinema’ – não se confunde com esta – a ‘teoria cinematográfica’ –, pois se trata de uma análise conceitual acerca do cinema, tendo como orientação geral partir de problemas de ordem filosófica para discutir questões cinematográficas. Assim, quando Sartre ou Merleau-Ponty se valem de categorias da fenomenologia husserlina para investigar a imaginação e a produção do imaginário como aquele, ou os fenômenos oriundos do campo perceptivo como este último, estamos diante de uma investigação teórica que parte da filosofia e do cinema para problematizar questões de natureza estritamente filosóficas. Este campo de investigação, por outro lado, para ficarmos inicialmente nos exemplos desses dois filósofos franceses, parece-nos ainda estar um tanto quanto para além da perspectiva que aqui estamos tentando delinear e pretendemos defender. Compreende-se, então, que, grosso modo, ainda não estamos diante do que denomino de “Filosofia do Cinema”. Apesar das teses de Sartre e Merleau-Ponty sobre a imaginação e a percepção serem deveras distintas daquelas, como, por exemplo, das defendidas por Béla Balász ou por Eisenstein acerca do cinematógrafo... o foco, a análise e a produção conceitual ainda não é, justamente, o próprio cinema. Uma filosofia do cinema não procura valer-se da filosofia para problematizar a audiovisualidade em geral e o cinema em particular. Isto sim, ela deve pretender constituir uma “estética” própria ao cinema e ao audiovisual. O cinema pode ser ambicioso, sem necessariamente ser pretensioso. Um filme pode ser rigoroso formalmente e delicadamente belo. Acredito que esse seja o caso de A erva do rato, o último filme de Júlio Bressane. Talvez uma das mais radicais realizações do diretor mais prolífico dentre os cineastas brasileiros em atividade, pois, afinal, este é seu vigésimo sétimo longa-metragem. Essa radicalidade presente em A erva do rato não é medida propriamente pelo que a obra apresenta de excesso ou excessivo, mas, justamente, por sua economia e contenção. Há como que uma espécie de minimalismo cinematográfico que constitui o filme. Esse minimalismo nos é apresentado por Bressane desde a escolha de seu enredo, levemente inspirado em duas histórias de Machado de Assis – A causa secreta e Um esqueleto – que, sob a chancela do cineasta carioca, ganha uma leitura contundente, transcriadora. Essa será nossa intenção nesta comunicação: apresentar a partir de uma perspectiva deleuziana o minimalismo pictorializante presente em A erva do rato de Júlio Bressane. |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles. Cinema1: a imagem-movimento. São Paulo: Brasiliense, 1985.
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