ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Roberto Farias: realismo. Autoria e gênero na crítica do cinema novo |
|
Autor | Simplicio Neto Ramos de Sousa |
|
Resumo Expandido | A proposta deste trabalho é a analise de um determinado momento da obra de Roberto Farias como diretor, que considero crucial para o entendimento de um processo vivido por boa parte do cinema brasileiro nos anos 50 e 60 do século XX. É quando se dá a passagem entre dois distintos regimes estéticos, no meu entendimento.
Depois de um trabalho inicial mais associado ao ciclo da chanchada - que remeteria a tradição do “cinema clássico” e do “cinema de gênero” e ao modo de produção que lhe é próprio, o dito cinema “de estúdio” - os filmes dirigidos por Farias passam a dialogar com um outro regime de imagem, som, montagem e narrativa, associado em diversos aspectos ao movimento do Cinema Novo. São filmes focados também na pesquisa de linguagem do chamado “cinema moderno”, e do “cinema de autor”, e no esquema de produção “de rua”, com iluminação natural, “em locação”. Este novo regime privilegiaria também a representação da "paisagem autêntica brasileira" e da "cultura nacional-popular", num contexto de revitalização do realismo estético no cinema brasileiro. Meu esforço de análise, interessado tanto no nível do discurso - na leitura dos depoimentos do autor, dos críticos que mais visitaram sua obra, e dos textos de divulgação dos filmes - se volta também para a análise fílmica, para o "close reading" de trechos de seus filmes. Com isso busco, a partir do caso específico de Farias, problematizar os conceitos de autor, gênero e Realismo, tais como foram “aclimatados” no Brasil, ao mapear e discutir as linhas principais de recepção critica de sua obra. Após seus dois primeiros filmes, considerados “chanchadas”, Rico ri à toa (1957) e No mundo da lua (1958), Roberto se aventura enfim pelo filme policial com fortes tintas Neorrealistas Cidade ameaçada (1960). Porém, antes de concretizar a sua mais celebrada busca por “realismo”, naquele que será considerado um dos disparadores do Cinema Novo, O assalto ao trem pagador (1962), Farias realiza uma nova “chanchada”, Um candango na Belacap (1961), para os que elogiaram sua virada autoral este “desvio” seria uma espécie de “retrocesso”. Tal conturbada passagem culmina com seu filme mais claramente associável a modernidade cinematográfica e a estética propriamente cinemanovista, Selva trágica" (1963), filme praticamente contemporâneo de Vidas secas, Deus e o diabo na terra do sol e Os "fuzis", todos do mesmo ano. Esses seus três filmes citados, Assalto, Candango e Selva trágica são fruto de uma parceria com o bem sucedido produtor Herbert Richers, o que leva Glauber Rocha a alcunhar essa ação de Farias de “Operação Richers”. Depois do impacto desta primeira leva do Cinema Novo, Roberto fica três anos sem filmar e volta com uma comédia urbana de costumes, Toda donzela tem um pai que é uma fera (1966), que inaugura um nova fase em sua carreira, fora do escopo desta análise. Meu recorte (esta aludida passagem de regimes estéticos) se dá num intervalo de poucos anos, e as contraposições autoria-gênero, estúdio-locação, Formalismo-Realismo, se refletem em escolhas artísticas e estratégias de produção e distribuição. É algo bastante problematizável, pois é uma passagem feita com muitos percalços e vai e vens. Minha pesquisa no PPGCOM-UFF é voltada para a questão da representação realista no Cinema Brasileiro, daí meu interesse especial nesse momento. Minha tese se baseia tanto numa pesquisa conceitual e bibliográfica focada no corpo teórico sobre o realismo e nos discursos dos realizadores e críticos, quanto numa pesquisa empírica fundamentada na análise dos filmes. Posto que minha questão central é a seguinte: o realismo seria sempre um discurso de mudança que serve em especial de base retórica para uma reivindicação de mudança nos padrões de produção cinematográfica? O confronto dos filmes com as teorias, críticas, manifestos e a produção escrita dos pode provar isso? |
|
Bibliografia | BENTES, Ivana (org.). Glauber Rocha:cartas ao mundo. SP: Cia das Letras, 1997.
|