ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Glauber Rocha, crítico cinematográfico do gênero western |
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Autor | Arlindo Rebechi Junior |
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Resumo Expandido | Se os filmes de Glauber Rocha são amplamente conhecidos no Brasil e no exterior, o mesmo não se pode dizer de sua produção crítica. Exceto uma pequena parcela de seus textos – aqueles mais polêmicos e programáticos do cineasta –, uma fração considerável de sua produção publicada de modo seriado ainda está para ser avaliada pela crítica especializada. É o caso do objeto de análise dessa comunicação: os textos publicados pelo jovem Glauber Rocha no ambiente soteropolitano, em finais dos anos 1950 e início dos anos 1960, sobre o gênero western. Os comentários desse trabalho dar-se-á pelo exame de três artigos: O western – uma introdução ao estudo do gênero e do herói, de 1957, na revista Mapa, publicação organizada pelo jovem crítico e seus colegas do Colégio Central; Notas à propósito de 'Rastros de ódio' e Burguês não é o herói que saca a pistola e enfrenta a morte no quente meio-dia, ambos publicados no Diário de Notícias, respectivamente, em 27 de outubro de 1957 e 10-11 de janeiro de 1960.
As primeiras recepções críticas de Deus e o diabo na terra do sol já haviam notado a ligação de Glauber com o universo do western. Veja-se, por exemplo, o caso do artigo “Dialética da violência”, de Luís Carlos Maciel, cuja publicação realizou-se no livro Deus e o Diabo na Terra do Sol, no ano de 1965. Em um dos melhores artigos publicados na ocasião do lançamento do filme, Maciel, para relacionar o recém-lançado filme de Glauber e o modelo de representação do western de matriz melodramática, privilegiou o eixo temático da violência, cunhando uma clássica expressão para o filme: a dialética da violência. Anos mais tarde, Ismail Xavier, em seu consagrado livro Sertão Mar, de 1983, voltaria à questão nesse mesmo filme de Glauber para discorrer sobre essa relação de contato e distanciamento no que toca ao gênero western. Os argumentos do crítico são elucidativos para a questão porque, ao mesmo tempo, em que determinam um ponto de contato e origem de ambas as narrativas, eles também refletem sobre as marcas distintivas entre elas. Em Deus e o diabo não está em jogo, ao menos não é o seu principal aspecto, uma pedagogia do processo civilizatório, gerada sob a égide do duelo, sempre finalizado, renovado e repetido, entre o bem e o mal. Ou ainda: entre aquilo que é o modelo a ser seguido e modelo a ser rejeitado, numa postura moral presente em parte considerável do cinema americano de gênero western e que, tempos depois, tornou-se também base da narrativa para a massificação da ficção seriada televisiva. Longe disso, conforme coloca Ismail Xavier, o filme de Glauber inviabilizava tal procedimento, pois, afinal, propunha suas bases de representação da violência como algo próprio do personagem oprimido diante da violência simbólica invisível e, por vezes, institucionalizada. A publicação pelo jovem crítico Glauber Rocha desses artigos de crítica cinematográfica vem demonstrar, entre outras coisas, que o interesse pelas questões do filme western vem de longa data, sendo, inclusive, muito anterior ao período de composição de Deus e o diabo. Entre suas muitas preocupações com o western, Glauber demonstra, por esses artigos, ser leitor inteligente e estratégico, que não se limita apenas ao comentário do processo de encadeamento de ações na narrativa. Importa para ele o modo como se dá a montagem e o processo dessa narrativa e as possíveis razões para isso. Com o propósito de apreensão dos modos de leitura do crítico Glauber Rocha, este trabalho, no exame desses artigos, procurou colocar em destaque o comentário e análise de três aspectos contemplados pelo jovem baiano sobre o western: o mito da infalibilidade do herói; a construção mítica do espaço das fronteiras; a nova missão que se renova uma após a outra, demonstrando a marca da previsibilidade do herói diante do seu público fiel e constituído de uma massa heterogênea de espectadores. |
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Bibliografia | BROWNE, Nick. The spectator-in-the-text: the rhetoric of “stagecoach”. Film Quarterly, California (EUA), v. 29, n. 2, p. 23-38, inverno 1975-1976.
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