ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | De Jogo de Cena para Moscou: teatralidade de Eduardo Coutinho |
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Autor | Maíra Gerstner |
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Resumo Expandido | Se em Jogo de Cena Eduardo Coutinho esteve interessado no ator nos seus processos e meandros, em Moscou, o cineasta radicaliza sua investigação acerca da construção cênica propriamente dita. Estes dois filmes são nomeados aqui como a “fase teatral” do diretor, na qual ele assume explicitamente seu diálogo com o teatro e firma um momento de suspensão na sua obra.
Talvez em Edifício Master, além da fala de Alessandra, que surge como um apontamento é a própria imagem do prédio, como uma estrutura que vai sendo tecida na medida em que seus personagens são apresentados pelo filme. Há também as cenas em que a equipe é mostrada através das imagens obtidas através das câmeras de vigilância do elevador. Instâncias vão sendo criadas e Coutinho vai revelando os meandros da sua construção fílmica. A atriz e o edifício são prenúncios da teatralidade anunciada em Jogo de Cena e Moscou. Depois de ter se aproximado do teatro em Jogo de Cena, o diretor assume o palco teatral como “cenário” e “problema” do seu filme. É um tipo de curiosidade que tem a ver com uma tradição de artesania teatral. Importante ressaltar que Coutinho não estava interessado em fazer o making off de uma peça e muito menos fazer um filme de uma peça. Moscou é interessante por isso. Pela dificuldade de dizer a respeito do que é o filme. É um filme de investigação acerca do modus operandi cênico. A pane da atriz Fernanda Torres revela alguns dos caminhos que o cineasta tomará para fazer Moscou. O fato dela não conseguir fazer a cena e escrever na sequência um artigo na revista Piauí sobre a sua dificuldade e a falta de sentido que passou a enxergar na sua profissão depois de ter feito o filme, revela uma ferida da ideia de ator que a modernidade construiu. Jogo de Cena desestabiliza o conceito de cena na medida em que constrói uma linha de fuga para a mesma. O “furo” do jogo também revela a fragilidade do seu terreno, pois, se é sabido que ele começa e termina, o filme também nos deixa sem saber quando isso ocorre, ou se de fato ocorre. EmMoscou Eduardo Coutinho trabalha ao lado de Enrique Diaz, diretor de teatro carioca que vem desenvolvendo um trabalho artístico bastante marcado pelo viewpoints – sistema de improvisação cênica criado pela diretora americana Anne Bogart, no qual atores e bailarinos são convocados a se relacionar com dinâmicas corporais, aspectos ligados à arquitetura e sonoridade, trazendo para a cena uma lógica bastante semelhante à da dança. Depois de ter escolhido o texto As três irmãs, Coutinho trabalhou durante três semanas com o Grupo Galpão e o diretor Enrique Diaz no então projeto de Antes da estreia. É curioso pensar que o filme resguarda uma dimensão processual bastante particular, na medida em que fica evidente ao espectador que existiu ali um trabalho grande de investigação e pesquisa do que se entende por cena. E são os atravessamentos do texto e da escritura cênica que o filme abarca. Todas as tentativas aqui se apresentam como possibilidades de olhar para a dimensão teatral dos dois filmes de Coutinho para além da dicotomia realidade – ficção, dicotomia esta que nada mais é do que a permanência no território da representação. O teatro se for compreendido como uma arte que necessita de uma lógica cênica e não de um pacto com a realidade (e nem com o seu oposto, no caso, a ficção), talvez careça de uma análise que contemple aspectos referentes à demanda estrutural da cena. Por estrutura entende-se aqui não algo fixo ou determinante, mas, algo conectado com perguntas e processos realizados na feitura da obra, como uma arquitetura cênica. |
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Bibliografia | DANTO, Arthur. A transfiguração do lugar comum. São Paulo: Cosacnaify, 2005.
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