ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Caçadores de energia: estratégias narrativas do audiovisual transmedia |
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Autor | André Bomfim dos Santos |
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Resumo Expandido | O tema central deste estudo são as transformações ocorridas na produção audiovisual publicitária, causadas pela sua relação com as mídias digitais emergentes. Utilizam-se aqui os advertainments como os representantes mais característicos dessas transformações. Trata-se de conteúdos que mimetizam vídeos de entretenimento, produzidos, porém, com o objetivo específico de alocar uma mensagem publicitária. Reconhecendo a necessidade vital dos conteúdos audiovisuais em geral de se adequarem a esse paradigma, propõem-se aqui questionamentos acerca das transformações ocorridas nesse processo de adequação, assim como de sua natureza e sua validade enquanto parâmetro para produtos audiovisuais de outros gêneros. Parte-se dos pressupostos de que essas transformações são de cunho essencialmente narrativo; de que elas dissimulam a retórica publicitária ao colocar o produto como uma instância narrativa dotada de personalidade; e, além disso, utilizam estratégias transmidiáticas para atingir públicos pulverizados entre mídias diversas e tornar o consumo da narrativa um processo mais ativo.
Pretende-se estudar esse cenário a partir de uma obra publicitária brasileira, que se enquadra na categoria dos advertainments: a websérie Caçadores de energia, produzida para o produto Guaraná Antarctica. Para investigar as suas estratégias narrativas, propõe-se uma combinação de métodos que possibilitem uma análise imanente e da recepção, como a estética da recepção (JAUSS, 2002) e a semiopragmática (ODIN, 2004). Segundo Alves (2003, p. 206), “a publicidade resulta em modelo para uma apreensão estetizada da vida”. O que nos aproxima da ideia de experiência estética onde ocorre a “apropriação de uma experiência de sentido do mundo” (id., ib., p. 210). De outro lado, a abordagem semiopragmática propõe a identificação de “modos de produção de sentidos e afetos” (ODIN, 2004, p. 33) e sua relação com contextos e públicos. Para compreender os esquemas de produção de sentido que operam aqui, torna-se indispensável esse olhar para o contexto e para o público. Neste caso, o contexto sociocultural e tecnológico denominado pelo teórico norte-americano Henri Jenkins (2009) de cultura da convergência. Segundo o autor, um paradigma emergente onde se presume que “novas e antigas mídias irão interagir de forma cada vez mais complexas” (id., ib., 2009, p. 33). Desde o lançamento da websérie, adolescentes e pré-adolescentes brasileiros criaram um fandom em torno da obra, onde é discutido o comportamento, as atitudes e as motivações do casal protagonista. Nesse espaço virtual, são também trocadas informações consideradas valiosas para a compreensão da trama e organizadas torcidas e manifestações em prol do seu desfecho. A narrativa, serializada e estrategicamente distribuída entre as diversas mídias estimula e favorece a busca e o compartilhamento de informações, criando assim um produto audiovisual que se amolda aos paradigmas de convergência dos meios e cultura participativa (JENKINS, 2009). A apropriação de um drama real e a sua ficcionalização estão implícitos no slogan “O Guaraná Antarctica viu, curtiu e resolveu apoiar a campanha do João”, indicando que o produto assume o papel de uma instância narrativa que propicia, endossa e rege o desenrolar de uma trama, em comunhão com o protagonista ou narrador delegado – João Maia. Ao mesmo tempo, uma compreensão mais aprofundada da narrativa pode ser alcançada através da busca por seus fragmentos espalhados entre as diversas mídias. Essas pistas são compartilhadas num jogo de “construção coletiva de significados” (JENKINS, 2009), motivado por valores distintos como integração ou status social. A análise de Caçadores de energia e a investigação de suas estratégias no âmbito narrativo tornam-se, portanto, um objetivo que converge com a busca de uma compreensão mais aprofundada de uma narratologia aplicada aos paradigmas contemporâneos de convergência de mídias. |
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Bibliografia | ALVES, Meigle Rafael. A poética do consumo. In: VALVERDE, Monclar (Org.). As formas do sentido. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. P. 205-233.
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