ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Paris, Texas: o olhar de Wenders sobre o território americano |
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Autor | Ricardo Tsutomu Matsuzawa |
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Resumo Expandido | Na sua busca por novos caminhos no cinema, podemos identificar que Wim Wenders, em Paris, Texas (1982), redefiniu a sua produção posterior. Pode-se observar, a partir desse momento, a adoção de novos elementos, outrora não utilizáveis em suas obras. Nesse sentido, destaca-se, dentre tantos, a preocupação como enredo e uma maior relevância nos discursos dos personagens. Aqui, a imagem fica, como paradoxo anterior, numa escala equiparada, sem a valorização inicial em seus filmes. Claro que se deve lembrar que sua estadia nos Estados Unidos e, sobretudo, sua realização de Hammett, foram fortemente indispensáveis para essa nova visão fílmica. O que se digladia na verdade, é o olhar europeu versus a prática hollywoodiana, o que pode ser visto a partir de 1982, como a realização e o lançamento de Paris, Texas. Em outras palavras, mantém elementos autorais e atualizam-se outros. Desse modo, destacou a história e os seus personagens, práticas que condenava. Apropriando-se de elementos míticos do cinema clássico americano como o western e o road movie.
O filme apresenta uma constante relação de dicotomias: o deserto e as cidades urbanas; o personagem inserido socialmente e o personagem à margem; o olhar europeu sobre a América e a América retratada; a imagem feita das pessoas e o que elas são; a falta de comunicação e a comunicação mediada por dispositivos (telefone, rádios e gravador). Antes de Paris, Texas Wenders acreditava que as imagens tinham uma importância muito maior que as histórias em seus filmes, como ele mesmo declarou em Reverse Angle (1982): “As imagens sempre significaram mais para mim do que as histórias: sim, as histórias sempre não eram, às vezes, nada mais do que pretexto para encontrar imagens”. Para pensar a respeito das histórias nos filmes de Wenders, retornaremos ao filme O estado das coisas, na cena em que o personagem Fritz faz um discurso para a equipe, na noite em que as filmagens são interrompidas: “Agora as histórias só existem nelas mesmas. Enquanto a vida passa sem a necessidade de criar histórias”. Em uma cena seguinte o personagem de Robert (Geoffrey Carey), ator de Les Survivants, grita para Fritz: “A vida sem histórias não vale a pena ser vivida!”. Wenders faz um comentário sobre a cena e sobre a questão da necessidade de histórias em uma entrevista: “Estamos simplesmente destinados a contar histórias para podermos participar daquilo que para nós é importante” (WENDERS, 1990, p.65). Na época desta entrevista, Wenders estava na pré-produção de Paris, Texas. Tinha começado a ler o livro Odisséia de Homero pela primeira vez, cuja leitura serviu como influência para a realização do seu novo filme e no seu modo de repensar as histórias: “Aí, gostaria de tentar de novo uma forma de contar que vá buscar de um modo bastante intempestivo e autoconfiante a relação da linguagem cinematográfica com a vida, e que desista de ligar o contar com a sua descrição das suas condições. Para que não cedamos justamente o campo ao grande filme-espetáculo, mas que vamos muito conscientes e contemos histórias – sem pesar e sem olhar para trás, para o bonito contar histórias que havia antigamente no cinema” (WENDERS, 1990, p.67). Após a realização do filme, como o personagem Travis, o cineasta deixa o passado para trás continuando sua busca de um novo caminho para o seu cinema. O próximo filme de Wenders é realizado na Alemanha, Asas do desejo, depois de quase dez anos afastado da Europa. Com uma nova consciência de identidade volta para pátria mãe que se mostra nostálgica. |
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Bibliografia | BERGSON, Henri. Memória e vida. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
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