ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Fábula ou Moro em Copacabana de Arne Sucksdorff |
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Autor | Esther Hamburger |
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Resumo Expandido | Dentre os filmes visitados ao longo desse percurso, Fábula (título brasileiro atribuído pelo diretor) ou Mitt hem är Copacabana (titulo sueco, adotado também na França) me sensibilizou especialmente pelos enquadramentos que descortinam o Rio de Janeiro a partir do morro. Proponho aqui um estudo em profundidade dessa obra que investigue o encontro problemático entre um cineasta europeu veterano, consagrado em seu país e nos principais festivais internacionais, conhecido por seus documentários e filmes que abordam a vida urbana e a natureza, que faz um cinema que poderia ser pensado como "orgânico", e o Rio de Janeiro do início dos anos 60. A Copacabana dos jovens cineastas interessados na apropriação do cinema direto e envolvidos com a revolução do Cinema Novo, em meio à efervescência cultural da época estranha os métodos de encenação do estrangeiro. Ao pensar esse filme e as possíveis interlocuções que ele estabelece com a filmografia mundial de um lado e sobre o Rio de Janeiro, de outro, amplio o escopo do trabalho para incluir interlocuções fílmicas transnacionais.
A diferença entre o título brasileiro - que o próprio diretor atribuiu - Fábula – e o título Sueco Mitt hem är Copacabana ou Moro em Copacabana, dá pistas sobre as ambiguidades do filme. O título brasileiro pode ser entendido como um elogio à forma como o estrangeiro imagina o fabular nativo, forma encantada de levar a vida. Mas o título afirma também o caráter de fábula do filme, de certa forma antecipando as críticas nativas à falta de espontaneidade e de realismo que o olhar estrangeiro impõe à narrativa. Já a primeira pessoa do singular no título original em Sueco se refere à experiência de cada um dos meninos protagonistas do filme, que moram em Copacabana. Mas a primeira pessoa do singular do título pode se referir a diversas experiências subjetivas do lugar que o filme aborda. No filme só conhecemos o lugar que as crianças dormem, mas outras figuras circulam pelo local, como jornalistas estrangeiros, artistas e cariocas de classe média, garçons, vendedores ambulantes, em Copacabana moram meninos e meninas de rua, uns amigos, outros irmãos, uns bandidos, outros jeitosos, uns maliciosos. Uma câmera fotográfica é roubada de um estrangeiro. Vale lembrar que o próprio diretor morou e trabalhou em Copacabana. Fábula ou Mitt hem är Copacabana faz uso amplo de locações externas e planos sequência, em uma bela fotografia realizada pelo próprio diretor, com muita luz do sol. Os atores mirins não profissionais contracenam com profissionais, como Flávio Migliaccio que co-assina também o roteiro e é assistente de direção. A convivência de técnicos suecos com brasileiros, em um trabalho de forte teor documental sobre a vida em Copacabana centrada no cotidiano de crianças de rua, entre a praia, o asfalto e a favela no morro, resulta em um filme surpreendente, que evita representações estereotipadas, e prefere sugerir algo no tom de fábula como sugere o título. O Rio de Janeiro de 1965 está no filme na interpretação de meninos carentes, mas pouco inocentes, que usam de artimanhas e safadezas para se virar e fazer dinheiro na praia. Essa apresentação é parte de um estudo visa ampliar a pesquisa existente sobre Arne Sucksdorff na história do cinema brasileiro, no ano do cinquentenário do curso patrocinado pela UNESCO que o trouxe ao país. Conhecido no Brasil por ter introduzido o Nagra, equipamento de captação de som direto e por ter formado os primeiros técnicos, o trabalho fílmico do cineasta que em seguida se radicaria na região do Pantanal permanece pouco conhecido. O projeto pretende também discutir a experiência brasileira na trajetória do diretor Sueco, consagrado em seu país, na Europa e nos Estados Unidos, que encerrou sua carreira no Brasil. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean Claude. Cineastas e imagens do povo. Cia das Letras: São Paulo, 2003 [1984].
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