ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Técnicas de colorização no cinema brasileiro silencioso |
|
Autor | Natália de Castro Soares |
|
Resumo Expandido | Esta comunicação tem por objetivo fazer um panorama das técnicas de colorização de filmes e de suas funções no cinema brasileiro silencioso.
Ao pensarmos no uso da cor no cinema silencioso, muitas vezes somos remetidos a esse uso com função narrativa, seja num registro mais de ambientação (azul para cenas noturnas, vermelho para incêndios) – como no debatido caso de apagar de luzes com emprego de tintagem azul em The Lonedale Operator (D. W. Griffith, 1911), seja em uma espécie de codificação simbólica que relaciona cores a sentimentos (vermelho para cenas de paixão, amarelo para cenas tristes etc.). Porém, consultando fontes de época (como manuais de fabricantes de película) e bibliografia diversa, vemos que o leque de funções que o emprego de técnicas de colorização exercia era mais amplo. Além das já citadas, a cor também era utilizada para tornar mais agradáveis para o espectador as áreas brancas da imagem (especialmente presentes devido à baixa sensibilidade do filme fotográfico na época) e diminuir a monotonia das projeções, além de uma função puramente ornamental. As técnicas conhecidas de colorização empregadas no período, por sua vez, são ainda mais variadas: pintura a mão, estêncil, tintagem e viragem (direta, indireta e mordançage), além das técnicas que buscavam obtenção de cores naturais (como o Techicolor 1 e 2 e o Kodachrome). No Brasil, ao que parece, a cor também foi elemento muito presente durante todo o período do cinema silencioso, e os processos mais amplamente utilizados para colorização de filmes foram a tintagem e a viragem. Até onde se sabe, todos os filmes brasileiros que possuem cópias de época colorizadas que sobreviveram até os nossos dias empregam ou tintagem, ou viragem, ou ambos os processos (em alguns casos simultaneamente, criando imagens bicolores, como em Veneza Americana, filme de 1925 da Pernambuco-Film). Aparentemente, a pintura a mão teve alguns poucos exemplos no cinema brasileiro. A família Ferrez, por exemplo, devido às suas ligações com a Pathé, teria enviado cópias de alguns filmes para colorizar na capital francesa, entre eles A Mala Sinistra (1908), que, segundo artigo na Gazeta de Notícias de 10 de outubro de 1908, terminaria em uma “apoteose colorida”. A técnica de pintura a mão também teria sido utilizada em Noite de São João, filme de Francisco de Almeida Fleming (1921). Desconhecem-se exemplos de filmes produzidos no país e que tenham utilizado estêncil como forma de colorização. Como esse era um processo patenteado pela Pathé, os custos já elevados do processo tornavam-se praticamente inacessíveis considerando ainda os gastos de envio de cópias à França. Porém, é possível que as cópias de filmes supostamente enviadas pela família Ferrez à França tenham sido colorizadas por estêncil, e não a mão, considerando que a partir de 1905 a técnica já era bastante célebre no cinema francês. Quanto aos chamados processos de obtenção de cores naturais, com inúmeros experimentos na Europa e nos Estados Unidos, até onde sabemos tiveram pouco eco no Brasil. Paulo Benedetti teria feito testes de um processo de síntese aditiva, aparentemente uma adaptação do processo Kinemacolor, que teriam surpreendido os poucos espectadores que tiveram contato com os resultados, como o crítico Pedro Lima, no final dos anos 1920. Porém, não se sabe muito sobre o caso, e é possível que Benedetti tenha simplesmente utilizado um dos processos já existentes na época. Depois de 1925, o uso de técnicas de colorização uniforme entrou em declínio, pelo menos na Europa e nos Estados Unidos. Um levantamento preliminar feito nos fundos da Cinemateca Brasileira nos mostra que aproximadamente metade dos materiais nitrato com tintagem ou viragem existentes no arquivo datam de 1924 a 1930. Isso pode ser um indício de que no Brasil as técnicas de colorização uniforme continuaram populares nos últimos anos do cinema silencioso, ainda que cópias menos antigas tenham mais chance de terem sobrevivido ao tempo. |
|
Bibliografia | AGFA. Manual de cinematografía. 1926 c.a.
|