ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A performatividade de um tropicalista no dispositivo televisual |
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Autor | Rafael José Azevedo |
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Resumo Expandido | A comunicação que propomos tem como finalidade uma reflexão acerca da dimensão performativa da canção popular brasileira que se constitui no dispositivo televisivo. Para tal construção, partimos de uma observação cuidadosa do programa Ensaio da TV Cultura, um dos mais importantes formatos televisivos brasileiros no que se refere à mediação da nossa música popular.
Como forma de esclarecer nossa intenção analítica é preciso traçar aqui algumas características gerais do programa Ensaio. Trata-se de um produto televisual com forte apelo documental que se constrói textualmente a partir de performances musicais entrecortadas por entrevistas de convidados. O formato foi criado no ano de 1968 pelo diretor e produtor Fernando Faro e já, nessa época, trazia as características que despertam nossa curiosidade. Podemos lembrar aqui de dois desses traços: a) sua composição imagética se constitui unicamente a partir de um registro do(s) convidado(s) em performance não havendo a utilização de imagens de fora ou de arquivo - a natureza dessas imagens, por sua vez, carrega certa peculiaridade devido a um uso exacerbado de supercloses e uma "montagem" rítmica que o aproxima da linguagem videoclíptica; b) trata-se, além disso, de um programa de entrevistas que não revela a atuação de seu entrevistador em interação com o convidado. Talvez esse seja o maior diferencial do Ensaio, pois os trechos em que tal personagem conversa com o convidado não são cortados e, assim, temos momentos de silêncio cessados pelas falas do(s) convidado(s). Nesse sentido, temos a constituição de um comportamento do dispositivo televisivo como algo que é reflexo da atuação de um artista ou uma banda em performance. O Ensaio busca, tradicionalmente, uma conduta, digamos mais livre, menos "ensaiada", de seus convidados e faz com que sua textualidade se materialize como algo que resulta de uma interação, por assim dizer, horizontalizada entre as ferramentas de captação e a performatividade dos músicos. Esse tipo de constatação nos leva a crer que, para entender a natureza dessa relação entre convidado e dispositivo televisual, torna-se um gesto ideal observar a textualidade de uma edição específica do programa. Por esse motivo, tomamos como empiria a edição que conta com o tropicalista Tom Zé de 1991. Como se sabe, o artista em questão constrói, nos mais diversos ambientes midiáticos, aparições marcadas pela espontaneidade. Ao observarmos, todavia, a constituição audiovisual da edição de Tom Zé, notamos que se constrói ali uma via de mão dupla. Por um lado o Ensaio mantém suas principais características apesar de uma atuação expansiva de Tom Zé. Este, por sua vez, compreende que o programa se compõe como uma "plataforma" para a mediação de seu trabalho artístico e, assim, negocia estrategicamente para que constitua, através de suas performances, uma subjetividade artística midiatizada. Torna-se, dessa maneira, imprescindível observar a maneira como Tom Zé se engaja na interpretação de suas canções no programa. É preciso, da mesma maneira, atentar para o modo como esse artista, no "corpo a corpo" com o dispositivo televisivo (encarnado no Ensaio), constrói uma versão audiovisual de si e da dicção de sua canção lançando mão de suas próprias memórias. Para a delimitação de nossa proposta analítica lançaremos mão das noções de performance e de canção traçadas por Paul Zumthor em Performance, recepção, leitura (2007). Arquitetaremos a noção de dispositivo a partir de autores como Foucault (2004), Deleuze (1996) e Agamben (2005) na relação com o modo como o funcionamento da linguagem televisiva é pensado a partir de teóricos como Gerard Imbert (2003) e John Ellis (1994). |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2005.
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