ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Além da borda narrativa: estratégias de recepção ativa do espectador |
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Autor | Raquel Timponi Pereira Rodrigues |
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Resumo Expandido | O artigo pretende abordar estratégias midiáticas abertas de composição narrativa dos produtos audiovisuais que demandam atenção e percepção do espectador, numa leitura lúdica e postura mais ativa. Como leitura e textualidade incluem as formas audiovisuais e híbridos criativos que auxiliam no processo de construção de uma nova linguagem para um aprendizado lúdico e prazeroso, como defende Roger Chartier (2009) – com a plasticidade do texto e o aspecto sensorial nas formas de atenção e reação – e reiteram Martín-Barbero e Germán Rey (2001).
É necessário investigar como as práticas cotidianas estabelecem novas relações com os modos de ler do espectador de produtos audiovisuais e de que maneira modificam as relações socioculturais e os atos de leitura, assim como analisar estratégias do audiovisual que demandam diferentes níveis de participação e atenção na recepção: 1) de narrativas fílmicas não-lineares; 2) recursos do vídeo e inversão de imagens nos planos múltiplos do videoclipe; e 3) variedade de bifurcações possíveis de uma história no cinema experimental interativo, formando, assim, uma diversidade nas maneiras de recepção. No primeiro nível, a aposta é que nas narrativas não-lineares, muito comuns na estética dos filmes em co-produção, assim como fórmula de produção do cinema contemporâneo das últimas décadas, haja uma valorização do espectador na participação das histórias, seja pela reconstrução mental dos acontecimentos em ordem cronológica e progressiva ou pela escolha da opção de desenvolvimento da narrativa que mais lhe convenha. Portanto, os recursos de estruturas em ordem não-linear geram um primeiro nível de esforço da plateia para montar a história como um quebra-cabeça que só pode ser completamente encaixado no final da trama ou não se encaixa nem no final. Porém, apesar de um pouco mais abertas à atenção e ao trabalho cognitivo, são ainda os diretores que criam os fragmentos possíveis e realizam uma montagem final. Ou seja, os vários caminhos permutativos para a escolha do espectador são gravados sob pontos de vista limitados pelos enquadramentos e montagem. Como participação de um segundo nível, observa-se o uso de estruturas narrativas fragmentárias que utilizam o excesso de informações pela simultaneidade, multiplicidade, contam com a maior participação dos espectadores, quanto ao conteúdo, pela junção de ideias e construção do sentido. Nelas é comum o uso de recursos de sobreimpressão de cenas, sequências em fusão e o jogo de inúmeras janelas que recortam a tela e permitem visualizar, concomitantemente, vários fragmentos de imagens, promovendo um misto de informações, vozes, textos e linguagens. A multiplicidade promove uma quebra do hábito retilíneo de leitura em lógica sequencial e entram em jogo as leis de associativismo e do aleatório. Assim, como referência para o espectador desses produtos, utiliza-se o recurso da repetição. Omar Calabrese (1987) chama de destreza sensorial das gerações jovens essa capacidade de percepção rápida do ambiente, pelo aprendizado do panorama da visão com a repetição simultânea de fragmentos de imagens, num trabalho contínuo de atenção no jogo lúdico de imagens detalhe, que ampliam o sentido principal da história ou compõem o tecido narrativo como num clip de imagens vindas de diversos lugares. E no terceiro nível está o cinema interativo. Atualmente, com a imagem digital e os processos de permutação dos dados (imagens viram bancos de dados, transformadas em algoritmos), a montagem aberta está mais próxima da realidade de um cinema digital interativo, em que espectadores escolhem entre possibilidades multiplicadas pela permutação, que ocorre com blocos de imagens no computador, o que se constitui como um nível a mais de participação e interferência nas tramas narrativas. Para análise da complexidade do papel do espectador serão usados conceitos da filosofia de Gilles Deleuze (1983), assim como a respondibilidade Bahktin (2010) e os atos de leitura de Paul Ricoeur (1995). |
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Bibliografia | BAKHTIN, Mikhail. A poética de Dostoiévski. São Paulo: Forense, 2010.
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