ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Almodóvar: intertextualidade, retroserialidade e autoria |
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Autor | Fabiana Crispino Santos |
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Resumo Expandido | O adjetivo almodovariano remete a uma série de sentidos que já ultrapassaram o cinema e ocupam outras expressões culturais, como a música, a televisão e as artes plásticas. Esse destaque foi conquistado a partir da repercussão positiva e dos prêmios alcançados com o lançamento de 18 longas-metragens no mercado internacional.
O tratamento da obra de Pedro Almodóvar remete à proposição de que a expressão artística na contemporaneidade é enriquecida a partir da diluição das fronteiras das esferas da arte e do deslocamento de elementos compartilhados, tanto na quebra da oposição entre alta arte e cultura de massa quanto no entendimento de que o audiovisual é um campo fértil para a produção híbrida, na qual a representação ganha força não pela superfície dos limites específicos de cada parte, mas pela profundidade que a interação entre elas pode gerar. Para a realização de uma análise da filmografia almodovariana, foi selecionado como chave de leitura o conceito de autoria. Além do reconhecimento da necessidade de aprofundamento da questão da autoria na teoria recente do cinema, a condição autoral da produção de Almodóvar foi considerada a partir de dois critérios principais: a retroserialidade e intertextualidade. A discussão acerca da retroserialidade refere-se à noção desenvolvida por Marsha Kinder (2009), que diz respeito à recorrência de elementos-chave que compõem as narrativas. Tais elementos foram elencados na presente proposta como sendo a representação da cidade, a temática ficcional da autoria e a constituição de uma rede de profissionais responsáveis por reforçar a assinatura no cinema. No que se refere à cidade, Madri merece destaque na cinematografia almodovariana. O cenário urbano, ao ser utilizado como um espaço para o qual sempre se volta, funciona como um traço de uma expressão autoral. A cidade de Madri está, direta ou indiretamente, presente em todos os longas-metragens do cineasta, e é retomada a cada novo filme acrescida de novos aspectos, novas questões a serem desdobradas. Voltar à cidade e encará-la como outros olhos é um dos maiores compromissos do cinema de Almodóvar. A ficcionalização da autoria é um item que pode simultaneamente deslocar a noção de autor e abrir margem para uma reapropriação das matrizes genéricas no cinema, flexibilizando estruturas antes percebidas com menor mobilidade. Nesse sentido, a ficção é a grande mediadora das histórias que Almodóvar quer contar e, ao mesmo tempo, o aclaramento de vários dos processos que fazem parte da produção de um filme como uma obra ficcional é um modo de deslizar a ficção, sem perdê-la de vista. Em outras palavras, a predileção do cineasta pelo discurso ficcional é tamanha que ele evidencia e tematiza a criação dos produtos culturais sempre que pode, bem como a autoria. Na encenação da autoria, todos os profissionais envolvidos nas gravações são partes atuantes, assim como as campanhas de divulgação e comercialização dos filmes, os relatos das instâncias de legitimação e do público. Por isso, Allinson (2008, p.123, tradução minha) afirma que embora tenha construído uma marca forte, o cineasta entende que é parte integrante de um todo que é bem maior e mais complexo do que ele, já que “seus filmes claramente demonstram que a noção do discurso ou voz do autor é apenas um dos vários códigos que operam no cinema. Almodóvar-autor pode ser pensado como um mobilizador dos diversos códigos que constituem os seus filmes”. A noção de intertextualidade, isto é, a forma como os filmes de Almodóvar fazem uso de outros textos no seu desenvolvimento, já foi apropriada por outros cineastas. As obras de Almodóvar se tornaram textos referenciados pelo próprio diretor e por outros longas-metragens, o que levanta o questionamento a respeito da transformação da cinematografia almodovariana, ela mesma, em um gênero. |
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Bibliografia | ALLINSON, Mark. A Spanish labyrinth: the films of Pedro Almodóvar. Londres: I.B.Tauris, 2008.
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