ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A articulação dramático-narrativa da canção no seriado As Cariocas |
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Autor | Andre Checchia Antonietti |
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Resumo Expandido | A canção ao ser inserida em um produto audiovisual trás para este um sentido novo que vai além de seu significado direto. A relação entre letra, música e imagem cria uma articulação que trás uma diferente leitura para o que se assiste. O seriado As Cariocas, da Lereby em parceria com a Rede Globo de Televisão, ideia do diretor Daniel Filho, utiliza esta relação em alguns de seus episódios. Baseada na obra homônima de Sérgio Porto, o seriado apresenta em cada episódio a estória de uma mulher moradora de um bairro do Rio de Janeiro. A estrutura dramatúrgica básica de cada unidade apresenta através de um narrador o bairro onde a estória está situada e introduz a personagem principal. Após a vinheta de abertura, se desenvolve o enredo proposto.
A vinheta de abertura, acompanhada da canção Bela Fera, do grupo Pedro Luís e a Parede, introduz a temática do seriado. Sua letra realça a mulher carioca que, ao andar pela passarela da vida, trás para ela sua beleza e personalidade. E a mulher, como centro do universo observado, causa engarrafamentos, mudanças de vento e filas de espera à sua volta. A canção da vinheta é acompanhada por um desfile das atrizes-personagens principais em cada episódio da série. A canção da vinheta articula diretamente a temática do programa: mulheres que, de posse de sua beleza e personalidade, causarão mudança na vida de quem as acompanha. A vinheta apresentada no início do episódio trás a personagem principal da estória como foco. Na vinheta final do episódio, o foco é a personagem principal do próximo episódio. Em oito de seus episódios se tem uma canção que permeia toda a narrativa. A canção é apresentada no início de cada episódio, quando o narrador apresenta o bairro e a personagem principal. Dois episódios não contêm canção na narrativa inicial. Cada canção faz relação direta a algum item da estória contada, reforçando alguma informação sobre as personagens, sobre a estória ou sobre o clima da narrativa. Pode-se dividir estas canções em três grupos. O primeiro deles contem uma canção que se articula dramaticamente com uma personagens da estória. No episódio A noiva do Catete temos a canção Magra(Lenine) que declama a beleza indiscutível de uma mulher, semelhante à personagem principal. O segundo grupo separa as seis canções que se relacionam com a estória contada. O episódio A Vingativa do Meyer é acompanhado da canção Que Pena (Ela não gosta mais de mim)(João Cavalcante). Aqui, tanto a canção como a personagem principal estão em dúvida se são amadas ainda. O personagem masculino principal de A Atormentada da Tijuca esconde o amor antigo que sente pela protagonista como na canção Menina(Martinália). Em A Internauta da Mangueira temos a canção Malandro(Alcione), que avisa o contraventor sobre as consequências de seus atos. Neste episódio, o personagem masculino principal mata a esposa por ciúmes. A personagem principal de A Adúltera da Urca é tão fiel como a voz da canção Só Love(Nina Becker). A sensação de estar sendo enganado presente na canção Sem Compromisso (Marcos Sacramento) é a mesma da personagem principal do episódio A Iludida de Copacabana. E a fúria da personagem principal de A Traída da Barra precisa ser contida como na canção Segura a Nega(Monobloco). O terceiro grupo contém uma canção que articula uma das sensações da estória que será contada, não se relacionando com as ações de nenhuma personagem: a canção Tempo de Estio (Olivia Byinton) exalta as belezas do Rio de Janeiro, local onde a personagem principal de A Invejosa de Ipanema desfila sua beleza e loucura. A canção pode ser usada de forma eficaz para esclarecer pontos da narrativa que se conta. Os exemplos aqui analisados mostram essa eficácia, reforçando a importância da canção como elemento narrativo. Isto faz com que o narrador onipresente possua um interessante artifício à seu dispor ao contar uma estória. |
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Bibliografia | CARRASCO, Claudiney Rodrigues. Sygkronos: a formação da poética musical do cinema. São Paulo: Editora Via Lettera, 2003.
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