ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | A teatralidade cinematográfica na obra de Michael Haneke |
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Autor | Sara Martín Rojo |
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Resumo Expandido | O cinema mantém, até hoje, uma estreita relação com o meio teatral.
Os dois requisitos básicos para o bom critério destas artes cênicas são a composição cenográfica e o trabalho de interpretação com os atores. Assim, estas relações estiveram determinadas ao longo da história por manter um diálogo constante, favorecendo a troca de recursos estilísticos em suas representações, com o fim de alcançar a melhor forma para seus discursos. Por isso, existe uma certa complexidade para definir as relações que mantém estes dois meios na atualidade, representação teatral VS representação cinematográfica, como consequência dos entraves arbitrários. A proposta deste trabalho centra-se, portanto, na medida em que as inter-relações produzidas entre o cinema e o teatro, sempre que realizadas de forma consciente, poderão favorecer ao meio aportando um valor expressivo utilizando elementos novos em seus discursos, sem renunciar ao conhecimento de si próprios, a dizer, a sua especificidade. Frente à apropriação direta, em que o meio, esquecendo sua identidade, duplica e se apropria dos recursos utilizados pelo outro, a assimilação por analogia se produz quando o meio adota os resultados e princípios estéticos, expressivos ou narrativos pertencentes inicialmente ao outro, através de novas e originais soluções, coerentes com suas particularidades (IGLESIAS, 2008, p.129). Porém, é importante destacar o forte vínculo entre o diretor contemporâneo Michael Haneke e o mundo do teatro. Ele é, ao mesmo, tempo diretor de cinema, diretor de cena e produtor de televisão, o que faz que seus filmes apresentem um talento especial para a construção interna da cena como fruto de tais experiências. Esta relação com o teatro, e também com a televisão, consolida-se, portanto, como uma ferramenta de estilo em seus filmes. Haneke direciona a atenção dos espectadores seguindo procedimentos similares aos usados no teatro com uma construção cenográfica que combina distintos recursos como elementos formais da narração. Assim, a presença teatral na obra de Haneke merece consideração por se constituir como uma estratégia essencial em toda sua obra para a criação de sua mise en scène e, por conseguinte, para a realização dos discursos que os filmes propõem. O jogo da teatralidade cinematográfica busca um olhar consciente sobre a representação. O olhar do espectador se converte no elemento motor do discurso, e, portanto, num pré-requisito para que se dê o exercício da teatralidade. Estes filmes mostram seu mecanismo de funcionamento, o que ocasiona numa percepção consciente sobre a representação. A percepção de uma distância “teatral” entre o espectador e o fato representado estimula a autorreflexão sobre o próprio meio enriquecendo o discurso. Assim, a teatralidade se apresenta como um processo ativo, como um jogo de tensões, entre o que um vê por um lado, e o que percebe como “escondido” atrás do que está sendo visto por outro. Haneke utiliza a aparência teatral de seus filmes como um dispositivo de ação para recuperar a impressão de realidade no espectador, ao mesmo tempo em que os utiliza como mecanismo de denúncia das representações espetaculares que convivem no contexto audiovisual. Usando de aspectos teatrais como recursos narrativos, formula uma crítica aos modelos de representação dominantes protegidos pela indústria hollywoodiana. Seguindo as ideias anteriores, este trabalho propõe uma análise dos elementos teatralizantes encontrados nos filmes de Michael Haneke, com a finalidade de compreender como esses elementos funcionam em prol do discurso intencional do diretor. Para tal, serão selecionados especificamente filmes ambientados no momento contemporâneo, pois, deste modo, poderemos perceber melhor uma crítica da atualidade. Para esclarecer a ideia de teatralidade como dispositivo de ação do discurso, é preciso recorrer a alguns exemplos encontrados em suas narrativas. |
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Bibliografia | BRECHT, Bertolt. Escritos sobre teatro. Alba editorial. Barcelona. 2004.
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