ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Mais que mera coincidência: mímesis da política e corrupção |
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Autor | Leandro Rocha Saraiva |
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Resumo Expandido | A motivação original desta comunicação é o interesse pela função mimética da obra de ficção audiovisual, tanto televisiva como cinematográfica. Mimese da política, sobretudo, entendida em sua forma tradicional, de disputa pelo aparelho de Estado, e não na acepção foucaultiana, dos “mil poderes” reticulares e cotidianos.
Mais especificamente, serão analisadas, comparativamente, 3 obras recentes – duas feitas para a TV, uma para o cinema – que abordam de forma central a corrupção na política brasileira contemporânea. Trata-se, portanto, de um recorte substantivo do corpus, a partir do qual serão analisadas as opções formais das obras, sobretudo da armação narrativa dos roteiros, empreendendo, de modo articulado à a análise imanente das obras, um cotejo com formas narrativas típicas da ficção industrial, dos gêneros do cinema americano e da teledramaturgia nacional. Além disso, será ensaiado um contraponto da narrativa ficcional com extratos das narrativas jornalísticas dos jornais diários e revistas semanais, e de obras de ficcionais de inspiração jornalística. As obras em questão são: a minissérie O Brado Retumbante (Euclydes Marinho, Rede Globo, 2011), o telefilme Homens de Bem (Jorge Furtado, Rede Globo, 2011) e o longa Tropa de Elite II (José Padilha, 2011). Como um contraponto de fundo, considerarei ainda a série americana Boss (Farhad Safinia, Starz, 2011), também fortemente marcada pelo tema da corrupção. Quanto aos materiais de natureza jornalística, estarão em questão a cobertura da revista Veja, dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, às questões das milícias no Rio de Janeiro, e ao processo do mensalão. E, ainda, matérias da revista Retrato do Brasil, sobre os mesmos temas. Os livros Elite da Tropa 1 e 2, de Luiz Eduardo Soares serão também objeto de reflexão comparativa. Em termos formais, cada uma das obras mobiliza recursos distintos. A minissérie de Marinho é francamente melodramática, contrapondo um protagonista puro – o presidente – a seus inimigos manipuladores, hipócritas e corruptos. Já Homens de Bem, como é recorrente no trabalho de Jorge Furtado, constrói uma narrativa que usa e subverte códigos de gênero – em especial o filme de espionagem, ao estilo 007 - justapondo estes códigos a momentos de quebras realistas do gênero e a um regime de variação de pontos de vista. Por fim, Tropa de Elite II aposta no modelo realista de desilusão do “herói problemático”, como chama Lukács (no caso de Padilha, a operação narrativa se torna mais interessante tendo em perspectiva a heroicização - bem pouco problemática - do Cel. Nascimento no Tropa de Elite original). Já Boss será tratado como um parâmetro externo ao contexto nacional, caracterizado por uma tentativa de uma ficcionalização próxima às peças históricas de Shakespeare – tendo em vista a inspiração shakespeariana para o romantismo, que se desdobrou no realismo do séc XIX, e sua possível pertinência como ferramenta mimética contemporânea. Teoricamente, considerarei dois autores clássicos e dois contemporâneos, dedicados à compreensão da mimese narrativa: Lúkacs e sua reflexão sobre o romance histórico e o realismo do séc. XIX; Auerbach, que em Mimesis abre a perspectiva de uma multiplicidade de “realismos”; e, mais contemporaneamente, os textos de Fredric Jameson e Perry Anderson sobre a pertinência e atualidade (modificada) do conceito lukacsiano de romance histórico. Sobre as relações entre forma, mimese e pressões da indústria cultural tomarei como referência Panoramas do Rio Vermelho, livro de Iná Camargo sobre alguns autores cruciais do cinema e teatro americano em meados do século XX (sobretudo depois da Crise de 29). Na especificidade da análise fílmica, a inspiração metodológica está no trabalho de Ismail Xavier, tanto em suas análises detalhadas – como em Sertão Mar, por exemplo – quanto na reflexão sobre tv e gêneros populares – em O olhar e a cena. |
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Bibliografia | ANDERSON, Perry. Trajetos de uma forma literária. Novos Estudos Cebrap, n. 77.
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