ISBN: 978-85-63552-11-2
Título | Modos de afetação no cinema de Lars von Trier |
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Autor | Emília Maria da Conceição Valente Galvão |
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Resumo Expandido | A presente apresentação tem como objetivo delinear, de forma ainda muito preliminar, as linhas gerais para um estudo que terá entre os seus objetivos tentar compreender como problemas ligados à convocação da dimensão afetiva da experiência do espectador do cinema têm sido colocados em cena de forma insistente pelo cineasta Lars von Trier, desde os seus primeiros longas, nos anos 80, até os dias atuais. A atração pela produção do diretor dinamarquês partiu de um interesse prévio sobre o problema de como os filmes visam, no plano mesmo de sua realização, determinadas reações afetivas do público - ou de certos públicos em particular – ainda que, no plano da recepção, determinações das mais diversas possam resultar na produção de sentidos e afetos outros.
Dentro desta linha de investigação – que mantém seu foco mais na questão dos efeitos do que propriamente da recepção - cremos que os estudos que se dedicaram de forma mais sistemática e exaustiva à questão dos afetos podem ser situados ainda hoje nas tradições da semiopsicanálise (a chamada teoria da posição-subjetiva ou teoria da enunciação) e nos trabalhos mais recentes publicados pelos teóricos cognitivistas das emoções fílmicas. As controvérsias entre estas duas correntes refletem visões quase antagônicas sobre a própria natureza do espectador de cinema e os modos válidos de produção do conhecimento. Mas o que interessa ressaltar aqui é que ambas as abordagens recorrem a ferramentas conceituais de outras disciplinas (a psicanálise, num caso, e a psicologia cognitiva, no outro) para dar conta de problemas que, no entanto, fazem parte de uma longa história de reflexão sobre a obra e seus efeitos, sobre o fazer artístico em sua relação com a dimensão emocional da experiência de um apreciador. Não se tem aqui a pretensão de tentar dirimir os conflitos, por vezes mesmo inconciliáveis, entre as duas vertentes, nem muito menos tentar propor uma terceira linha de investigação. Em geral, o pensamento de inspiração psicanalítica põe sua ênfase na exploração do jogo dos olhares entre os personagens como estratégia de apelo às identificações, enquanto os cognitivistas preferem dar um peso maior à importância da orientação moral na construção dos personagens. No entanto, ambas vertentes orientam suas reflexões em direção a hipóteses sobre os possíveis efeitos de um mesmo conjunto de recursos tidos, de modo muito geral, como significativos para entender como os filmes procuram conquistar ou não adesão do espectador, promover identificação, empatia e/ou simpatia em relação a um determinado personagem: o uso da câmara subjetiva, a variação na escala de planos, o apelo aos estereótipos, os jogos que a narrativa realiza entre o saber do espectador e o do personagem, etc. Com base nisso, cremos que é possível inserir todo este debate teórico dentro de uma discussão mais ampla sobre as convenções que orientam, de forma consciente ou não, as decisões cotidianas dos realizadores em seu ofício de manejar emoções. O “caso Lars von Trier” oferece um exemplo prático interessante para refletir sobre estes problemas, de uma perspectiva que não seja meramente textual. Nesse sentido, os modos de construção interna dos textos fílmicos serão entendidos como parte de um diálogo mantido pelo cineasta com os espectadores (e em especial a crítica e mesmo outros realizadores) sobre problemas como os limites éticos da manipulação dos afetos ou o sentido de certas convenções que regem as estratégias de aproximação e distanciamento em relação aos personagens. Para construir esta abordagem, serão tomadas como referência as noções de “horizonte de expectativa”, de Jauss, e “padrões de intenção”, proposta pelo pesquisador de história da arte, Michael Baxandrall. |
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Bibliografia | BAXANDRALL, Michael. Padrões de intenção: a explicação histórica dos quadros. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
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